Uma villa romana, datada entre os séculos III e V, «em singular estado de conservação», foi identificada perto de Évora, durante trabalhos arqueológicos nas obras de construção da nova ferrovia. O achado obrigou a Infraestruturas de Portugal (IP) a alterar o projeto.
As escavações revelaram o hipocausto (sistema de aquecimento de água para banhos), termas, mosaicos e mármore decorativo e outras estruturas ainda por definir. Foi ainda identificada uma necrópole (cemitério) na envolvência, o que acaba por dar «luzes» sobre a importância do espaço. Essa importância fez com que, inicialmente, a Direção Regional de Cultura (DRC) do Alentejo emitisse um parecer que obrigava as IP, dona da obra, a uma escavação integral, isto é, à «conservação pelo registo». André Carneiro, arqueólogo e especialista na época romana, docente da Universidade de Évora, disse, na altura, que «o que está a acontecer é uma destruição de património». «Mesmo que a IP possa garantir a não destruição durante a execução da obra, a passagem de comboios de mercadorias vai alterar as condições da ruína a curto e médio prazo», sublinhou. O especialista garantiu ainda que «em Portugal, não há nenhuma villa romana escavada na totalidade» e que «esta seria uma oportunidade única para o fazer». «O conhecimento que daí poderia surgir seria fundamental, bastava para isso cumprir a lei do património», frisou.
Como a empreitada é pública, e foi financiada pela Comunidade Europeia, obriga a um estudo de impacto ambiental, mas quando é encontrado, durante o decorrer dos trabalhos, algum sítio arqueológico com relevância científica, a lei obriga mesmo a uma escavação integral. A DRC alterou o parecer inicial e a escavação não vai prosseguir, para que a obra da ferrovia possa ficar concluída nos prazos previstos. Mas, garante a entidade, fica salvaguardado este importante achado arqueológico.