Ocorreram desde o dia 1 de janeiro até 21 de agosto deste ano 72 mortes em meios aquáticos. Na análise feita durante o primeiro semestre do ano, até 30 de junho, o número de mortes tinha sido de 46, menos 26 do que as atuais. Apesar de os números parecerem elevados, são 28,1% inferiores ao período homólogo do ano passado.
De acordo com o Observatório do Afogamento, da Federação Portuguesa de Nadadores Salvadores (FEPONS) das 46 pessoas que morreram em contexto aquático na primeira metade deste ano, 27 eram homens, 18 mulheres e uma não foi possível determinar o sexo.
Relativamente às faixas etárias, mais de 10% da mortalidade foi registada na faixa etária dos 70 aos 74 anos (5 pessoas), seguindo-se as faixas etárias dos 15 aos 19, dos 20 aos 24 , dos 45 aos 49 e dos 65 aos 69 anos.
21 destas mortes aconteceram no rio, nove no mar, cinco em poços, cinco em piscinas privadas, três em barragens, duas em tanques e uma numa fossa. Em 100% dos casos não existia vigilância e em 71,7% existiu uma tentativa de salvamento.
No que toca à hora do dia, 58,7% das mortes aconteceram da parte da tarde, 23,9% de manhã e 17,4% à noite. O maior número de mortes ocorreu no distrito em Lisboa, com 7 mortes, seguindo-se o distrito do Porto com 6 e os de Faro e Viana do Castelo com 5.
Dado os nove acidentes mortais que ocorreram nas praias este ano, «sendo a causa provável, na larga maioria das situações, doença súbita», disse a Autoridade Marítima Nacional (AMN), foi desenvolvida a campanha «Não dê férias à segurança», que pretende sensibilizar a população para «uma cidadania responsável, através de recomendações no âmbito da segurança e de comportamentos a adotar nas praias que ajudem a minimizar os riscos de acidentes balneares».
Quando foi lançada a campanha, a AMN sublinhou que este ano, tal como nos anos anteriores, verificou que «muitas das situações que resultam em acidentes nas praias não se devem a pessoas em dificuldades na água, mas a outras situações como paragens da digestão, choque térmico, desidratação ou paragem cardiorrespiratória».
A campanha, feita em conjunto com a DGS, recomenda que sejam frequentadas praias vigiadas, respeitando as indicações das autoridades e dos nadadores-salvadores, que seja evitada a exposição ao sol entre as 11h00 e as 16h00 e que se reforce o protetor solar de duas em duas, usando preferencialmente um com fator superior a 30. A campanha aconselha ainda os portugueses a comerem refeições ligeiras e a que respeitem os períodos de digestão, não deitando lixo para a praia.
Mais de dois milhões de mortes
A Organização Mundial de Saúde (OMS) já alertou para os afogamentos que causaram cerca de 2,5 milhões de mortos entre 2009 e 2019 e afirmou que os mesmos poderiam ter sido evitados com medidas simples.
Por ocasião do Dia Mundial da Prevenção do Afogamento, celebrado a 25 de julho, a OMS realizou uma conferência de imprensa em que adiantou que, em alguns países, a morte por afogamento continua a ser uma das principais causas de morte de crianças com menos de cinco anos, sendo «uma causa de morte que pode ser totalmente evitada», afirmou David Meddings, coordenador da OMS.
Só em 2019, morreram cerca de 236 mil pessoas por afogamento, de acordo com as estatísticas da OMS, que não contemplam cheias, suicídios ou afogamentos em embarcações de transporte. Não estão por isso contemplados nestes números os vários migrantes que perderam a vida no mar Mediterrâneo.
Ainda segundo a organização, 60% da vítimas têm menos de 30 anos, sendo as crianças com menos de cinco anos as mais afetadas. Na China, o afogamento é a principal causa de morte de crianças com menos de cinco anos, sendo que nos Estados Unidos e em França é a segunda. Ainda assim, David Meddings afirma que a taxa é três vezes maior nos países de rendimento baixo e médio do que nos países ricos.
No Uganda e na Tanzânia, por exemplo, 80% das mortes por afogamento são de jovens pescadores.
Por isso mesmo, o coordenador da OMS lembrou que há precauções simples que podem salvar as vidas das crianças, como manter as mais pequenas longe da água, cercar poços e ensinar às crianças o básico de natação.
Foi depois da OMS ter apelado para que os governos implementassem planos nacionais para reduzir a incidência de mortes por este motivo que foi lançada em Portugal a campanha «Não dê férias à segurança».
Casos no país
No rio Pinhão, em Alijó, no distrito de Vila Real, registou-se no mês passado uma morte por afogamento. O homem terá morrido no local onde desagua o rio Douro.
De acordo com o Comando Distrital de Operações e Socorro (CDOS) de Vila Real, aquela é uma zona bastante frequentada por pescadores mas não para recreio ou lazer. A Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) acabou por confirmar o óbito no próprio local.
No concelho de Mafra já morreram este ano duas pessoas em duas praias distintas. Em março, na praia de São Lourenço, um homem de 41 anos «sentiu-se mal na água, ficou inconsciente, foi retirado da água para a areia por surfistas, foi sujeito a manobras de reanimação, mas sem sucesso», disse, na altura, à agência Lusa o comandante da capitania de Cascais, Paulo Agostinho. De acordo com o mesmo, o homem já tinha problemas de saúde e um episódio semelhante tinha acontecido duas semanas antes.
Já em junho, um homem de 45 anos morreu na praia da Calada, no mesmo concelho, a tentar salvar as duas filhas que se encontravam com dificuldades no mar. Segundo a Autoridade Marítima Nacional, esta praia não é vigiada e, quando a Polícia Marítima chegou ao local, o homem já tinha sido retirado da água por dois surfistas.
As meninas de nove e 12 anos, que se encontravam com dificuldades no mar, foram transportadas pelos Bombeiros para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, em situação estável e acompanhadas pela mãe.
O gabinete de psicologia da Polícia Marítima prestou apoio tanto à família como a um dos surfistas que tirou o homem da água.