É sexta-feira de manhã, o primeiro dia de Festa do Avante!, e o movimento nas ruas em quase nada se equipara àquilo a que já foi. Os lojistas relatam mais gente do que o ano passado, – não fosse este ano o número de pessoas permitido no recinto o dobro daquilo que foi em 2020 – no entanto, acreditam que a população ainda está receosa.
«O facto de serem permitidas 40 mil pessoas dentro do recinto, não significa que esse número seja mesmo atingido», diz ao Nascer do Sol Diamantino, proprietário da Cafetaria Aroma Perfeito. Hélder Rainha, que se senta numa mesa daquele estabelecimento e intervém na conversa, concorda com o empresário, acrescentando que, apesar disso, «todos os que vierem são bem-vindos».
As palavras do morador da Amora contrastam com as que se ouviam no ano passado. Nessa altura, foram vários os residentes que afirmaram que iriam sair do concelho durante a festa, uma vez que este se iria encher de gente e, por ser uma altura em que as infeções por covid-19 eram elevadas, não se sentiam confortáveis. Havia menos infeções do que há agora.
«Embora estejamos com uma taxa de vacinação elevada, as pessoas ainda se estão a retrair bastante», considera Hélder. «Por exemplo, o grupo da minha filha, que todos os anos ia festa, este ano optou por não vir, tal como no ano passado».
Apesar de a Festa do Avante! ainda não estar com o número de visitantes normal, os comerciantes admitem estar felizes por terem a oportunidade de, durante três dias, vender mais do que no resto do ano.
Ana, proprietária do café Scratch, situado junto a uma das entradas do recinto, diz ao Nascer do SOL que o «ambiente já começa a ficar composto». Apesar de no ano passado não ter sido um dos estabelecimentos que optaram por fechar, confessa que não fez «receita praticamente nenhuma».
O receio em relação à pandemia também em nada se assemelha ao que foi relatado no ano passado: «Não tenho medo nenhum porque nós cumprimos as regras todas: temos desinfetante e toda a gente usa máscara», esclarece Ana.
No café Mindelo, o ambiente de festa é sentido logo pela manhã. Fernando Martins, o proprietário mostra-se entusiasmado pelo clima que retorna à Amora após um ano complicado. As garrafas de cerveja e os copos com bebidas alcoólicas são servidos para alegrar, tanto os consumidores regulares como os visitantes e para o empresário «é claro que é bom em termos monetários para recuperar do ano passado».
Débora, funcionária do café Tão Bela 2, que optou por fechar no ano passado, admite que já sente «as coisas a voltarem ao normal», ainda que lentamente. O espaço faz sandes de panado e folhados especialmente para aqueles que pretendem levar comida para o recinto.
Ainda antes do meio dia, a esplanada do estabelecimento já estava cheia de clientes que dali seguiriam para a festa. O visual não deixava margem para dúvidas: além daqueles que traziam os passes que permitiam a entrada pendurados ao peito, as t-shirts com citações antifascistas e as boinas a fazer lembrar Che Guevara, identificavam imediatamente os militantes e amigos do Partido Comunista.
Tradição de família
Pelas 16h30 há quem já esteja a entrar no recinto, embora a hora de abertura esteja marcada para às 19h00.
As famílias juntam-se em grande número e, depois de apresentarem o certificado de vacinação ou um teste negativo, estão prontas para dar início à festa.
No que toca a faixas etárias, todas estão representadas. Desde os mais novos, que ainda pouco compreendem política, até aos mais velhos, com vários anos de militância.
Carlos Curado Faria tem 9 anos e desde que «estava na barriga da mãe» que vem à festa, conta-nos a progenitora Rossana Curado. «É quase como uma tradição de família», diz, enquanto olha para o filho a molhar os pés no pequeno lago que se encontra no centro do recinto. «Os meus avós já vinham à festa e o meu pai trabalha nos bastidores do Palco 25 de Abril», conta o jovem bem-disposto.
Carlos recorda ainda a sua primeira memória na festa: «Tinha cinco anos, estava aqui no lago e depois fui andar na carrinha do apoio com o meu tio».
Tiago Alves, de 22 anos, está já acostumado a estas andanças. Desde que se lembra que vem à Festa do Avante! e este ano, apesar de estar a estudar em Londres, aproveitou as férias em Portugal para marcar presença na Quinta da Atalaia.
É a segunda vez que compra o bilhetes de campismo e, apesar de o ambiente social estar agradável, garante que «as distâncias de segurança não estão, de maneira nenhuma, a ser cumpridas» uma vez que «as tendas têm menos de um metro de distância entre cada uma».
Além disso, devido a estar «acampado num campo de futebol», Tiago afirma que o «acesso a casas de banho, balneários, meios ou sítios de saneamento» é extremamente reduzido.
Abertura da festa
Às 19 horas, a mensagem gravada por Jerónimo de Sousa foi transmitida em todos os altifalantes do recinto e nos ecrãs junto ao palco principal. Esta deu início à 45º edição da Festa do Avante!, no ano em que o partido celebra o seu centenário.
O discurso do secretário-geral do PCP durou apenas cinco minutos, sendo que o mais ansiado – e demorado – acontece apenas no domingo, último dia da festa.
Neste que é o segundo ano em que o encontro comunista se realiza em clima de pandemia, os voluntários que se encontram dentro do recinto esforçam-se por manter a segurança sanitária.
João Rosado, militante do PCP há dois anos e voluntário na festa pela primeira vez, conta ao Nascer do SOL que este ano, «por estarem à espera de um maior número de pessoas do que no ano passado, apesar da pandemia, os espaços de circulação foram todos alargados».
Além disso, por estar a trabalhar na zona do bar, explica que é aconselhado «que todos os pagamentos sejam feitos através do método contactless para que não haja evitar o contacto físico».
Nas zonas de restauração «há sempre alguém a limpar as mesas com desinfetante», afirma o militante do PCP, sendo que é também repetido com frequência nos altifalantes que é obrigatório o uso de máscara nos locais assinalados, como o caso dos sanitários e das filas para os bares e restauração.
Ainda que o primeiro dia seja por hábito o menos movimentado da Festa do Avante!, a verdade é que se sente uma diferença em relação ao ano passado. Para os próximos dias espera-se que dezenas de milhares de comunistas, e não só, passem pela Quinta da Atalaia, sempre cumprindo as regras de segurança.