Nova Iorque, setembro 2021
«It is not the critic who counts; not the man who points out how the strong man stumbles, or where the doer of deeds could have done them better. The credit belongs to the man who is actually in the arena, whose face is marred by dust and sweat and blood; who strives valiantly; who errs, who comes short again and again, because there is no effort without error and shortcoming; but who does actually strive to do the deeds; who knows great enthusiasms, the great devotions; who spends himself in a worthy cause; who at the best knows in the end the triumph of high achievement, and who at the worst, if he fails, at least fails while daring greatly, so that his place shall never be with those cold and timid souls who neither know victory nor defeat.»
Presidente Theodore Roosevelt
Queridas Filhas,
Quando era adolescente, jogava em muitos torneios de Golf. Infelizmente nunca foi um campeão. Contudo, num torneio de dois dias tive a oportunidade de ganhar o primeiro prémio: uma viagem ao Disney World de Orlando, Florida. No final do primeiro dia ia em primeiro lugar com quatro pancadas de vantagem.
Nessa altura não tinha nunca viajado para fora de Portugal, salvo as idas às compras a Vigo com os meus pais. Não conhecia Madrid, Paris, Roma nem Londres. Uma ida para os EUA, e logo para a Disney World, era um sonho que eu não ousava aspirar.
Escusado será dizer que dormi pouco nessa noite. A excitação e o nervosismo eram grandes. Contemplei a possibilidade de jogar mal e perder o torneio, mas estava focado em não fazer disparates e jogar pelo seguro. No dia seguinte as condições eram bastante difíceis. Muito vento. Contrariamente aos meus medos e ansiedades, estava a jogar bem.
Mantendo a bola no campo, quando muitos saiam do campo e se perdiam abaixo na classificação. No final dos primeiros nove buracos parecia que a minha vantagem estava segura. Segundo me disseram, a minha Mãe chorava de alegria com a possibilidade da minha vitória. Mas em torneios amadores, não se sabe bem a classificação enquanto se está no campo. Só no final da volta, quando todos os jogadores entregam o seu cartão é que se vê quem ganhou o torneio.
Nos últimos nove buracos continuei a jogar bem até ao green onde perdi muitas pancadas desnecessárias. Quando terminou e se fizeram as contas, fiquei em terceiro lugar. Fiquei destroçado. Mantive uma postura estoica durante a entrega de prémios e felicitei o vencedor. Despedi-me dos meus amigos. Vim calmo no carro até casa. Fui para o meu quarto, fechei a porta e chorei. Senti uma dor imensa.
De tal forma que no dia seguinte, pela primeira vez na minha vida, não tinha vontade de sair da cama e ir para a rua. Felizmente os meus pais forçaram-me a isso e a ferida em dias sarou.
E os benefícios do que me aconteceu começaram a surgir. Refleti durante meses. Que lições tinha para a minha vida? Como evitar que isso sucedesse outra vez? O que diz esse episódio das minhas capacidades como pessoa? As conclusões que tirei têm me ajudado desde então. E estou convencido vão continuar a ajudar até aos últimos dias da minha vida.
Em primeiro lugar, foi a constatação que todos erramos. Que todos temos momentos menos bons. Que as coisas podem mudar rapidamente e que nada está seguro até que está terminado. Aprendi ainda que episódios deste género acontecem a todos os que se aventuram. Nada diz sobre a vida futura ou a sua carreira. O que distingue quem teve um ótimo percurso depois de derrotas dos que se refugiaram na escuridão, foi a atitude que tomaram.
Comecei por me perdoar a mim próprio. Aceitar que não sou perfeito nem nunca serei. Aceitar que a única coisa com que posso contar, é com aquilo que controlo: o meu esforço e dedicação contínua. Por vezes, entrega a 100% não vai evitar derrotas dolorosas destas. Mas vai ajudar a levantar-me no dia seguinte de cabeça tranquila sabendo que fiz tudo o que estava no meu controlo.
Por outro lado, também aprendi que vantagens aparentemente confortáveis se esvanecem em poucos minutos. Que se tem que lutar até ao último segundo. Manter o brio até ao fim. Assegurar que o barco chega a bom porto, o projeto tem o sucesso esperado dentro do prazo e abaixo do orçamento, que o investimento proporciona o retorno esperado.
Desde aí em muitas áreas da minha vida, amigos dão-me os parabéns quando as coisas vão bem, e eu continuo sem vontade de celebrar ou mesmo falar: «Se entregar, então celebramos» costumo eu responder.
Por último, desenvolvi uma grande admiração por pessoas que passaram por dificuldades, grandes perdas e conseguiram dar a volta por cima. Desde aí que me quis associar a essas pessoas. Sei que têm a força necessária para ir para a frente quando as dificuldades aparecem. Por contrário, vi muitos desportistas campeões que nunca tiveram dificuldades, perder a compostura depois da primeira derrota e não conseguirem recuperar mais.
Como amigos gosto de ter pessoas que têm já ‘cicatrizes’. O mesmo na Somar Capital. São os melhores colaboradores. Eu espero que vocês aprendam com as minhas cicatrizes, mas abracem o mundo sabendo que para viver uma vida completa também um dia terão as vossas. E isso faz parte do trajeto que vos leva aos vossos sonhos.