Existe sempre algo mais por detrás daquilo que aparenta ser evidente. As limitações e restrições autoimpostas são claramente uma surpresa positiva, e irei explicar-lhe o porquê.
Conta-se que o ser humano vem à terra uma ‘página em branco’. Caracterizado por um potencial plurivalente, vitalidade e diversidade, a criança explora o mundo em todas as direções.
À medida que se desenvolve, o indivíduo transita nas suas manifestações de sede e descoberta de mundo, de um estado de total dispersão para outro de maior foco, durante o qual a concentração confere uma maior velocidade de aprendizagem, maior intensidade na entrega e, como consequência, maior preenchimento e melhores resultados.
É já no estado adulto que o grande foco é interrompido pela imersão das responsabilidades. Essas costumam originar overthinking, stress e outros ditos culpados das limitações de crescimento e aplicação do indivíduo nas suas atividades.
Contudo, sou da opinião que, caso as limitações que nos surjam sejam aproveitadas, podem potenciar e aguçar a utilização das nossas melhores capacidades. Tomando um exemplo: um cavalo livre e saudável é perfeitamente capaz, analisando o seu potencial, de competir em qualquer categoria (velocidade, obstáculos ou outra). Ainda assim, esse mesmo cavalo, pela sua falta de disciplina, jamais poderá fazê-lo naquelas condições.
É a partir do momento em que o animal restringe parte da sua aparente liberdade, e se lhe colocam as rédeas que, em pouco tempo, o potencial se materializa na concretização de possibilidades.
Da mesma forma, o estabelecimento de rotinas e consequente restrição das teóricas liberdades é uma pedra basilar na escadaria de um qualquer indivíduo, rumo aos seus objetivos, sejam eles quais forem. A natureza inteligente de ações repetidas, muitas vezes sem grandes pensamentos, existe na condição em que concentram o anterior potencial e o transformam, nos momentos por nós escolhidos, na mais poderosa e afinada ferramenta de resolução de problemas.
Quero como isto transmitir-lhe que acredito profundamente na utilidade da rotina e outras posturas estoicas como principal forma de transição de um estado de probabilidade e potencial, para um estado de concretização e materialização. No fundo, estas limitações servem-lhe o propósito de, não sendo humanamente possível concretizar a totalidade do potencial de um qualquer indivíduo, manifestar-se uma parte.
É irónico como um ser tão inteligente tem tanto a ganhar com a automatização de comportamentos, durante os quais não recorre às suas capacidades. Até o Hulk, um dos super-heróis mais fortes, não está sempre verde e inchado. E o leitor, escolhe estar pronto para as suas batalhas!?