Porque não confio nas nossas autoridades de saúde

Não, não é apenas desde que começaram a ser diagnosticados em Portugal “casos de covid-19” que as nossas “autoridades de saúde pública” passaram a dar mostras de não serem, em meu entender, técnicos suficientemente competentes, independentes, credíveis, e em cujas decisões possamos sensatamente confiar.

por António Silva Carvalho, médico reformado

Já há dez anos, por exemplo, quando o pretexto sanitário foi a ‘gripe A’, a DGS e a então ministra da Saúde actuaram de um modo que, na essência, foi bastante idêntico ao de agora.

À guisa de introdução, e para não me repetir escusadamente, limito-me assim a transcrever seguidamente o que nessa altura escrevi sobre o assunto (texto que, sem surpresa, foi ignorado pelos jornais para onde o enviei, solicitando a sua publicação):

 

GRIPE A: UM CASO DE SAÚDE PÚBLICA OU DE POLÍTICA?

No penúltimo programa televisivo ‘Prós e Contras’, sobre a ‘gripe A’ e a respectiva vacina, o que esteve verdadeiramente em causa foi saber se os portugueses acreditam e confiam, ou não, nas autoridades de Saúde do seu país. Ora eu penso que, desgraçadamente, nós temos sobretudo razões para nelas não confiar. De resto, o referido programa de TV só veio confirmar esta minha convicção. É óbvio que as nossas autoridades, tal como aliás as de outros países e até a OMS, entraram em pânico à simples ideia de que vinha aí uma pandemia de gripe causada por um novo tipo de vírus. A partir daí (repetindo o que se passara há poucos anos, quando o mundo quase enlouqueceu a propósito da célebre “gripe das aves” – que afinal nunca surgiu…), as autoridades só fizeram disparates (e estou a dar de barato que sejam totalmente “falsas” e “sem fundamento” as afirmações que têm circulado na internet, relativas ao alegado carácter conspirativo que estaria na base destas duas estranhas estórias). Coisas de que ninguém fala, como se estivéssemos perante mais um tabu. O que as autoridades criaram foi um clima de pânico a nível mundial (que os media, é claro, agarraram e multiplicaram entusiasticamente, pois nada vende tão bem como o medo generalizado). Entre nós, tudo o que as autoridades fizeram de início parecia destinado a criar uma imagem de zelo face à saúde dos cidadãos (provavelmente com fins eleitoralistas), mas o que de facto resultou disso foi uma absurda ansiedade na população (o que é tudo menos salutar) e a perturbação inevitável no funcionamento do SNS. Em seguida, ao darem-se conta de que muita gente já nem lhes dava ouvidos, passaram à fase da intimidação, pois não tinham argumentos que não fossem os da autoridade. A fraca adesão e, até, a rejeição da vacina por parte de alguns “grupos prioritários” reflecte, justamente, esta falta de confiança. De resto, o facto de terem sido médicos e enfermeiros (i.e., os cidadãos mais bem informados na matéria) os primeiros a boicotar as directivas superiores é, por si só, elucidativo quanto ao clima de desconfiança que hoje existe no país. Aliás, a impressão com que se fica é que a ministra Ana Jorge e o DG da Saúde terão esquecido a sua formação médica, preferindo antes actuar como meros comissários políticos, numa atitude de submissão acrítica ao seu superior hierárquico – ou seja, aquela que era menos susceptível de suscitar confiança na população.

Quanto ao debate televisivo propriamente dito, o modo como decorreu não favoreceu em nada a posição oficial defendida pelo Governo e pela DGS. Porquê?

  1. Porque o ambiente de medo instalado fez com que as pessoas se inibissem de expressar opiniões divergentes da versão oficial, ao ponto de nem sequer ter comparecido, ou falado, quem discordava do que tem sido feito pelas nossas autoridades sanitárias – presumivelmente, por terem medo de represálias no seu emprego no SNS.
  2. Por só ao fim de horas de debate ter aparecido alguém (o pediatra Dr. Cordeiro Ferreira) que, com sensatez, chamou a atenção para o facto de esta ‘gripe A’ ser uma doença muito benigna, não justificando de modo algum o medo que por aí existe – e devendo, portanto, ser encarada como tal. Contudo, ninguém teve a coragem de dizer, ao público leigo, o que já é sabido pelos técnicos: que a taxa de mortalidade desta gripe A é muito mais baixa (e não mais alta!) que a da gripe sazonal, à qual estamos todos acostumados, e que nunca perturbou nenhum governante.
  3. Tão-pouco ajudou o facto de o DGS, à falta de argumentos mais convincentes, ter capciosamente comparado a obrigatoriedade da vacina anti-tetânica, com o “dever cívico” que supostamente haveria de se aceitar de bom grado a vacinação para a gripe A, mas “esquecendo-se” de sublinhar a enorme diferença que há entre as duas situações: num caso, trata-se de prevenir, muito eficazmente, uma doença mortal, o tétano (em que a vacinação obrigatória faz todo o sentido – e o cidadão comum percebe porquê), ao passo que no outro caso se trata de TALVEZ prevenir uma das doenças mais benignas que existem, com uma vacina que, inclusive, poderá vir a causar problemas a bastante gente (já que não houve tempo para a sua segurança ser suficientemente testada).

 

Gostaria ainda de lembrar que, sobre a saga desta vacina, e se a intenção é mesmo a de esclarecer e proteger a saúde dos portugueses em geral, quem os media deveriam procurar ouvir era o Prof. António Coutinho, e não os comissários políticos que por aí existem. Trata-se do nosso mais reputado imunologista e, como se sabe, a Imunologia é a ciência que está na base de toda e qualquer vacina. Neste cientista, e naquilo que ele tenha porventura a dizer sobre o assunto, os portugueses poderiam, enfim, confiar. Numa situação como aquela que hoje existe, em que o que abunda é a ansiedade, a ignorância e a desconfiança, só alguém realmente sabedor e de reputação imaculada está em condições de poder tirar as dúvidas, mais que legítimas, a quem está confuso, ansioso e desconfiado.

Também convém não esquecer que, neste último ano, o nosso ministério da Saúde se transformou, praticamente, no “ministério da gripe A”, como muito bem disse, há dias, a Dra. Maria José Nogueira Pinto. Ou seja: uma das doenças mais benignas que se conhecem justificou, no plano político, o gasto de verbas e energias gigantescas, que poderiam ter sido empregues a tratar e prevenir o que verdadeiramente são os mais importantes problemas de saúde dos portugueses. É que estas opções do âmbito da Saúde Pública são sempre políticas, e nada inocentes. Quando se escolhe “defender” uns, está-se, nas entrelinhas, a dizer que muitos outros bem podem morrer.   

14.4.2011                    

António S. Carvalho (médico reformado)

 

 

Ora, o que se tem passado em Portugal desde que aqui surgiram os primeiros “casos de covid-19” corresponde à repetição do mesmo padrão de comportamento por parte da DGS e do Governo, só que agora dum modo a que se pode chamar totalitário, por afectar todas as facetas da nossa vida em sociedade, tendo-se chegado ao ponto – inédito na história da medicina – de serem classificadas como “doentes” (e de isolarem à força) inúmeras pessoas que não sofriam de quaisquer queixas ou sinais de enfermidade, apenas por ter dado resultado ‘positivo’ um determinado teste laboratorial, que aliás pode, em muitos casos, corresponder a um ‘falso positivo’.

O carácter totalitário da gestão técnico-política desta pandemia incluiu, pelo menos no nosso país, muitos outros abusos de poder, violações de direitos humanos, e a imposição de variadíssimos tipos de danos a muita gente, quer houvesse ou não alguma justificação de natureza científica para tais atitudes do Estado.

Para que este meu texto não fique demasiado longo, referirei apenas 3 aspectos que me parecem especialmente irracionais, ou inexplicáveis, ou eticamente condenáveis:

a) Uso obrigatório de máscara nas situações mais absurdas, sem que ninguém corresse risco de contágio; e, desde certa data, não-aceitação de viseira facial acrílica em vez de máscara, apesar de a viseira cumprir melhor, sob todos os aspectos, a sua função protectora contra eventuais contágios aéreos por gotículas expelidas ao falar, tossir, espirrar, etc. E isto, independentemente de a máscara aceite poder ser um simples trapo sujo com duas fitas de nastro ou elásticos, enquanto é rejeitada a viseira, mesmo que seja a melhor que haja no mercado. Já sem falar numa questão que é crucial, até do ponto de vista policial: enquanto a máscara, ao tapar a cara, dificulta ou impede que a pessoa que a usa seja imediatamente reconhecida e identificada por aqueles com quem se cruza (como sucede também no caso das mulheres e raparigas islâmicas, sejam ou não talibãs), tal não se passa com quem usa viseira acrílica, pois esta é transparente, e portanto as caras são 100% visíveis e reconhecíveis. O que quer dizer que, devido ao uso generalizado de máscara, a identificação de criminosos procurados pelas polícias terá, certamente, diminuído muitíssimo no último ano e meio.

b) O facto de a DGS e o Infarmed nunca terem dado resposta ao pedido que lhes foi dirigido, há meses, por um grupo de médicos da mais alta reputação e competência, a fim de a Ivermectina passar a ser oficialmente reconhecida como medicamento de primeira linha para efeitos de tratamento de infectados por covid, logo desde os sintomas iniciais da doença, no âmbito doméstico ou nos lares de idosos. Tal omissão representa, na melhor das hipóteses, negligência funcional, ou sinal de que as entidades em apreço ainda não compreenderam qual é a função que é suposto exercerem em exclusivo na sociedade portuguesa.

c) O facto de a DGS, de forma tergiversante, mudar de posição e passar a recomendar a vacinação de todos os miúdos desde os 12 anos de idade, sabendo-se que ainda não houve tempo para ser testada nenhuma destas vacinas, nem sequer a médio prazo, quanto à sua segurança, e conhecendo-se pelo menos a tragédia que ocorreu, por volta de 1960, no célebre e triste caso da Talidomida, que também começou por ser prescrita como se fosse o mais inócuo dos medicamentos para o conforto das grávidas, e depois levou ao nascimento de pelo menos dez mil crianças afectadas de gravíssimas malformações congénitas, sem cura possível, retrata, como nenhum outro, quais os princípios e valores éticos que norteiam a actuação desta “autoridade”. Por outras palavras: quando o desprezo pela ciência chega a estes extremos, com que “aliados” poderemos contar em defesa dos nossos filhos e netos? Ninguém? Apenas a fé em Deus?!

 

Como quase todos talvez saibam, eu poderia facilmente acrescentar, aos que citei, muitos outros aspectos em que é legítimo e pertinente criticar a actuação das nossas “autoridades de saúde”, ou mesmo afirmar que a sua actuação, no último ano e meio, teve como consequência indirecta uma taxa global de mortalidade, em Portugal, bastante superior à registada nos anos anteriores – e causada sobretudo por patologias alheias à covid-19. Mas não o farei, pois se o fizesse estaria, eu também, a falar sobre coisas sobre as quais não tenho certezas e não disponho de números fidedignos.

A quem esteja interessado em obter as informações mais completas e credíveis sobre o panorama desta pandemia em Portugal, sugiro que leia, por exemplo, o artigo que o Prof. Doutor António Ferreira publicou há poucos dias no Observador, com o título “Covid-19: Está na hora de exigir a prestação de contas”.

O que posso, desde já, concluir, é que, tal como em 2011 o Ministério da Saúde se tornou o ‘Ministério da Gripe A’, também o actual ministério dito “da Saúde”, sob as ordens políticas de Marta Temido, transformou-se, em 2020/2021, ainda com mais e piores razões, no ‘Ministério Totalitário do Novo Coronavírus’.

A partir de agora, e ainda que toda a população do país ficasse vacinada para este novo vírus, só tenho razões para pensar que o SNS nunca mais voltará a ter a qualidade e as capacidades que teve até há poucos anos; e também antevejo que a vida e a saúde dos portugueses (e dos estrangeiros) aqui residentes será cada vez pior e mais vulnerável aos arbítrios e negócios políticos, sejam quais forem os progressos médicos que possam vir a verificar-se no mundo. Oxalá eu me engane, mas a verdade é que não parecem nada tranquilizadores os sinais que vou vendo a cada dia que passa.

 

23.8.2021 / António Silva Carvalho (médico reformado)