O Machómetro, desenvolvido por Gustavo Techtonik, é uma engenhoca que deteta e avalia os níveis de masculinidade dos homens. Ao longo de 30 anos, Gustavo usou-a para estudar a maneira como se manifestam os machos portugueses. Desse estudo resultaram quatro níveis de machometria, que passarei agora a reproduzir por ordem crescente:
Dois casais estão a ir para a Serra da Estrela ao som de Xutos. Jorge, no refrão do Circo de Feras, distrai-se e sai da faixa. Ouve-se um estrondo: pneu furado. Gabriela e Isabel assustam-se. Jorge e Paulo cruzam olhares: foi para isto que nasceram. Saem do carro: mão na anca, dedo indicador a tapar o lábio. «É preciso mudá-lo» – atiram. Pipipipi, ouve-se o Machómetro, que declara: uma das maneiras mais consistentes para avaliar a masculinidade de um homem é através da sua capacidade para mudar pneus. Macho que é Macho deve acender um cigarro, deitar-se, pôr o macaco, atirar o pneu suplente para o chão (nunca pousar delicadamente) e fazer a troca em pouco tempo.
Tiago, Daniel, Afonso – três quelque-sofisticados yuppies – foram jantar ao mexicano da Baixa. Inchados de cosmopolitismo, à mesa, gabam-se de como haviam já provado os mais potentes picantes do mundo: «Houve um, na Tailândia, que mandou o Diogo para o Hospital». Daniel nota haver um prato com Carolina Reaper. Anuncia-o. Todos sabiam para o que iam, mas ninguém estava à espera daquilo. De repente a mesa tornara-se num filme do Sergio Leone: todos se fitam. Tiago dá um gole no mescal e lança: «Traga-me, se faz favor, o bife com molho de tomate e Carolina Reaper. Mal passado». Pipipipipipi, ouve-se o Machómetro, que conclui: uma das maneiras mais consistentes para avaliar a masculinidade de um homem é através do quão picante ele gosta da sua comida. Macho que é Macho, para além de aguentar altos níveis de picante, deve ter por hábito pô-lo em tudo o que é comida (até no leite com cereais, se achar necessário).
Gonçalo, Nuno e Edgar estão na noite. Edgar era jogador de futebol, tendo até chegado ao FC Porto B. Dedicava-se, contudo, mais aos jogos no Eskada do que aos jogos do Porto. Lá ia treinar todas as madrugadas da semana, equipado com chuteiras da Balenciaga e t-shirts da Givenchy. Com MC Kevinho a tocar de fundo, chama Gonçalo e Nuno: «Vamos ver quem ‘saca’ mais miúdas». Pipipipipipipi, ouve-se o Machómetro, que conclui: uma das maneiras mais consistentes para avaliar a masculinidade de um homem é através da quantidade de raparigas que ele consegue engatar numa noite. Macho que é Macho deve conseguir dominar o maior número possível de fêmeas.
Diogo, Marta e Marcelo estão a beber um copo no Lusitano. O drag show terminou há meia hora e a pista finalmente se começa a compor. A música está boa, alternando entre Variações, ABBA e Lady Gaga. Diogo, que acabou há pouco uma relação e ‘não tem nada a perder’, cansa-se do vinho tinto e avança para a Vodka Redbull – afinal, há que dar speed para conseguir dormir acompanhado. Plantado tipo farol, repara na presença de Igor, simpático rapaz que conhecera através do Grindr. Eis que começa a tocar a ‘Gimme! Gimme!’. Euforia: é a música de Diogo! Confiante, de palhinha no canto da boca, avança até Igor. Olá para a direita, olá para a esquerda. Dançam. Engatam-se e…. ao som do refrão da ‘Gimme! Gimme!’ ouve-se o Machómetro: Pipipipipipipipipipipi, que conclui: a maneira mais consistente para avaliar a masculinidade de um homem é através do seu domínio sobre outros homens. Macho que é Macho dispensa a fina e delicada fêmea e asserta o seu domínio sobre outro bruto e grosso Macho. E tudo ao som dos ABBA, para que não haja dúvidas.
Enfim… Como é bom ter isto claro e estruturado! Obrigado, eng. Gustavo Techtonik: finalmente temos um guião a seguir! Afinal, que seria de nós homens sem a imprescindibilíssima masculinidade?