O faroeste em Lisboa!

O país está a enfrentar um problema social gravíssimo. Muitas pessoas estão a procurar sobreviver e a procurar sítios que possam fornecer comida para colocarem na mesa.

Vivo em Lisboa! Vivo mesmo no centro de Lisboa! Trabalho, também, no centro de Lisboa, na Mouraria e no Castelo. Está tudo ao rubro. Há turistas por todo o lado. As casas continuam a ser dedicadas ao Alojamento Local. Não espero na próxima década ter habitantes fixos nas minhas paróquias, a não ser que mudem as políticas de arrendamento do alojamento temporário.

Ontem abri vários sites de notícias e fiquei espantado. Perguntei-me: O que se está a passar em Portugal? O que se passa em Lisboa? Qual vai ser o nosso futuro? 

As notícias parecem ser assustadoras. Por pouco tempo, pensei estar a ler notícias tiradas daqueles filmes do faroeste. Uma primeira notícia dava conta da insegurança no Bairro Alto, como havia todas as noites aglomerados de gente – mas isso não é novidade – acompanhados de violência, esfaqueamentos, tráfico de droga, gangues, etc. O que dizia a Polícia na notícia? É uma situação complexa e não conseguimos controlar.

Abro um outro site e vejo que bem dentro da minha paróquia há uma situação de perseguição aos lojistas por parte de um gang asiático – do Bangladesh – que faz extorsão de dinheiro aos comerciantes. Num outro site, vejo que há um problema com a máfia brasileira que procura domínio da noite, no tráfico de droga e da prostituição.

Não me admira… não preciso de abrir os jornais ou os sites. Basta passear um pouco por Lisboa e de ver que a cada esquina nas vias principais me oferecem droga – que nem sequer é droga. Quando pergunto porque não fazem nada, dizem-me que não conseguem fazer nada!

Na semana passada estava em casa, a rezar, há uma da manhã e ouço tiros e uma bomba… vou à janela! Todos os vizinhos vieram à janela. Todos nos perguntamos o que se passou. Passa uma carrinha para cima, exatamente no sentido contrário do trânsito. Um bando de gente à tareia… O que aconteceu? Ninguém sabe…

O país está a enfrentar um problema social gravíssimo. Muitas pessoas estão a procurar sobreviver e a procurar sítios que possam fornecer comida para colocarem na mesa. Realmente não ter comida para colocar no prato é um drama inimaginável para mim. 

Se não ter acesso à alimentação é um drama que nos coloca em situações muito vulneráveis, vejo que não ter segurança não é de menor importância, isto é, nós precisamos de nos sentirmos alimentados e seguros. Se não temos segurança, cria-se em nós um medo que nos impossibilita de fazer a nossa vida normal. 

O que se está a passar? Porque há estes processos de violência a crescerem? Completamente descontrolados na cidade de Lisboa?

Isto não é uma coisa nova na Europa. Nós, em Lisboa, estávamos ainda um pouco protegidos, mas, de certa forma, é o preço que temos de pagar pela fama internacional… 

É um fenómeno internacional e profundamente urbano. Mas é um fenómeno que cresce, não por causa do turismo, não por causa da emigração, não por causa dos estrangeiros, mas porque deixámos de cuidar dos jovens e assumimos uma atitude ingénua frente ao coração humano.

Nós começámos a acreditar que ‘quando alguém nasce, nasce selvagem, não é de ninguém’ – como diz a música – e isso levou-nos a descuidar a educação espiritual e ética dos mais novos. O mal já não é punido nem pela religião – que já não força nenhuma nas sociedades ocidentais – nem pela sociedade. É, então, que vemos que cresce no coração de cada homem a ganância, a inveja, a maledicência, a violência, os assassinatos. 

Jesus diz no evangelho que não há nada que esteja fora do homem que ao entrar no homem o torne impuro, porque é de dentro do coração do homem que nascem todas as invejas, maledicências, adultérios… 

Tudo nasce do coração do homem e podemos fazer as leis mais rígidas e punitivas, meter um polícia em cada esquina, mas se não cuidarmos do coração, o faroeste vai continuar.