Mais de uma centena de académicos e intelectuais nacionais e internacionais assinaram uma carta pública em defesa de Raquel Varela. Em causa está a notícia do Público que aponta para “erros” no currículo, com repetições de artigos e livros, que terão levado o Instituto de História Contemporânea (IHC) a retirar o apoio à sua candidatura à quarta edição do Concurso de Estímulo ao Emprego Científico Individual, promovido pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). O concurso ainda a decorrer, estando numa fase de avaliação das candidaturas, e na qual a investigadora surge como “admitida”, candidatando-se a um contrato como investigadora coordenadora, com um vencimento mensal de 4664,97 euros brutos.
“Raquel Varela, historiadora do trabalho e dos conflitos sociais e intelectual pública em Portugal, tem estado a ser alvo de uma tentativa de assassínio de caráter que veio colocar a nu as relações desleais dentro da academia, a promiscuidade entre algum jornalismo e os promotores de ‘campanhas difamatórias’ e a degradação da vida democrática em geral, com o crescimento de fake news e da extrema-direita”, revela o manifesto a que o i teve acesso.
O documento é assinado por personalidades relacionadas com as universidades de Lisboa, Oxford, Berkeley, Glasgow, Paris, Budapeste, Geneva, Freibug, Rio de Janeiro, São Paulo, Buenos Aires, contam-se “alguns dos mais renomados cientistas mundiais, diretores de centros, de departamento, responsáveis de cadeiras, diretores de revistas científicas, escritores e jornalistas”.
“Este é um caso exemplar de como o nepotismo dentro de um setor da academia e a necrofilia de alguma imprensa procura silenciar uma intelectual, uma mulher cuja carreira tem sido marcada por um contributo central para os estudos globais do trabalho e pela abertura da academia à sociedade, substanciada em centenas de palestras e dezenas de projetos com sindicatos e associações, pela sua presença desde há sete anos num programa semanal de debate na televisão pública, um programa na rádio pública e dezenas de artigos em jornais”, acrescentando que “a intervenção pública de Raquel Varela não se coíbe de criticar o poder, pauta-se pela defesa dos direitos do mundo do trabalho, colocando a centralidade do trabalho digno na agenda nacional”, diz o manifesto, afirmando, no entanto, que não subscreve todas as suas opiniões, mas alerta que defende “o direito inalienável de os intelectuais não serem ameaçados com ‘campanhas difamatórias’ porque abordam temas incómodos ao poder. A crítica do poder é uma função democrática essencial, particularmente nos tempos sombrios que vivemos. Sem a função de uma crítica independente, a universidade, assim como a figura do intelectual, perdem a razão da sua existência”.