A crise pandémica acelerou em quatro a cinco anos a transição para o comércio eletrónico na Europa, sobretudo no setor do retalho. Esta é uma das principais conclusões do estudo “European food retailers: The bitter digital aftertaste of the Covid-19 legacy”, da Euler Hermes, acionista da COSEC – Companhia de Seguro de Créditos.
Os dados revelam ainda que, nos cinco principais mercados europeus – Reino Unido, França, Itália, Espanha e Alemanha – a penetração do comércio eletrónico nas vendas de produtos de supermercado varia entre os 3% e os 11%. Só no último ano, o crescimento anual das vendas das empresas retalhistas através de canais digitais foi de 5,3% – quase o dobro do crescimento médio registado nos últimos 10 anos, “impulsionado por um maior número de refeições feitas em casa e pelo aumento da procura por produtos de higiene pessoal e de uso doméstico”, justifica a Euler Hermes.
Durante os primeiros seis meses deste ano, as vendas através de comércio eletrónico cresceram 2,4%, apesar da abertura progressiva de bares e restaurantes. De acordo com os economistas do acionista da COSEC, esta tendência deverá manter-se independentemente do alívio das medidas para controlo da pandemia.
Mas nem tudo são boas notícias. Este crescimento poderá ter um impacto negativo na rentabilidade do setor, “uma vez que os elevados custos operacionais não se repercutem no preço apresentado aos consumidores”. Assim, é estimado que cada ponto percentual de compras que transite para os canais online implicará perdas de mais de 13 mil milhões de euros em vendas e quase 2 mil milhões de euros em lucros na receita das empresas de retalho alimentar, o equivalente a 4% do total.
O mercado retalhista conta então com novos desafios. A análise destaca que a crescente penetração do comércio eletrónico no setor do retalho alimentar implica dois grandes desafios para os operadores estabelecidos: “primeiro, altera a regra da concorrência por preço, acrescentando à equação a conveniência e o serviço, fazendo com que as empresas mais pequenas ou mais reticentes em acompanhar a transição digital enfrentem um maior risco de perder quotas de mercado; segundo, é uma grande ameaça à rentabilidade. As vendas de mercearia online são efetuadas com prejuízo, independentemente do modo de entrega (clique e recolha ou entrega ao domicílio), uma vez que estes novos processos acarretam custos operacionais mais elevados do que o tradicional”.
Entre os principais parceiros comerciais de Portugal, o Reino Unido e França são os países cujo setor do retalho enfrenta maiores riscos: as taxas de penetração do comércio eletrónico são elevadas, a concentração do mercado é maior e verifica-se uma forte presença de supermercados e hipermercados com estruturas preparadas para entrar no comércio eletrónico. No mercado francês, por exemplo, são predominantes os serviços de “drive-through” ou “click and collect”.
O estudo da Euler Hermes prevê que a dupla ameaça às quotas de mercado e aos lucros leve os retalhistas a repensar as suas estratégias de operações de comércio eletrónico, com enfoque em três principais áreas de reflexão: uma adaptação do mix de lojas e uma rotação no investimento para permitir uma melhor adaptação a uma maior penetração do comércio eletrónico; investimento em capacidades digitais permitindo uma maior eficiência, com vista a atingir a paridade de lucro em relação ao retalho físico e parcerias com empresas do ecossistema de comércio eletrónico em rápido crescimento (empresas de tecnologia alimentar, entregas de mercearia e logística).