12.º colocado na temporada 2020-21 da Premier League, e, atualmente, dono de apenas três pontos em sete jogos na liga, o Newcastle United tem novos donos, novos fundos, e novos objetivos em mira. Para começar, a equipa, da qual 80% do seu capital é agora detido pelo Public Investment Fund da Arábia Saudita, parece ter já escolhido a sua primeira vítima. Segundo noticiou o diário britânico Daily Mirror, o técnico Steve Bruce será o primeiro a cair na debandada em Newcastle, numa ação que deverá custar cerca de 10 milhões de euros a Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro saudita que administra o fundo em questão. ‘Trocos’, poderia argumentar-se, quando se tem em conta que a fortuna familiar administrada pelo mesmo está avaliada em cerca de 320 mil milhões de euros.
Para o lugar de Steve Bruce fala-se de vários nomes, como o de Lucien Favre, o técnico suíço que ainda não encontrou lugar após a saída do Borussia Dortmund, Steven Gerrard, que lidera atualmente o Rangers, campeão em título na Escócia, e Brendan Rodgers, treinador do Leicester City.
Mas a lista de possíveis candidatos não se fica por aí. A estes nomes e ao do italiano Antonio Conte junta-se o do português Paulo Fonseca, que terá, diz a imprensa britânica, passado também pela cabeça dos dirigentes do Newcastle, que se encontram agora impulsionados por um novo e reforçado orçamento. Fonseca juntar-se-ia assim, caso se venha a concretizar uma contratação em St. James' Park, a Nuno Espírito Santo e Bruno Lage na principal liga inglesa de futebol.
INJEÇÃO MILIONÁRIA Para além do futuro treinador, caso se concretize a saída de Steve Bruce, as possíveis contratações para o plantel da equipa a norte de Inglaterra dão também pano para mangas, e abrem um novo mercado para a criação de novas e multimilionárias negociações. A imprensa inglesa fala num ataque em massa ao Paris Saint-Germain, a equipa francesa que é detida pelos vizinhos do Qatar, no mercado de inverno.
Keylor Navas, o guarda-redes dos parisienses, é um dos principais reforços apontados, após ter sido ofuscado pela chegada do italiano Gianluigi Donnarruma ao Parc des Princes. Na mesma situação está o avançado argentino Mauro Icardi, que não parece ter grandes probabilidades de jogar no plantel inicial do PSG, já que tem pela frente a estelar tripla formada por Neymar Jr., Mbappé e Messi.
O futebol europeu tem sido o palco, ao longo dos últimos anos, de grandes e milionários negócios com investidores além-fronteiras, e Inglaterra não está desfamiliarizada com o conceito. Afinal de contas, o Manchester City, onde militam Bernardo Silva, Rúben Dias e João Cancelo, foi comprado, em 2008, pelo Abu Dhabi United Group, do xeque Mansour bin Zayed Al Nahyan dos Emirados Árabes Unidos, tal como os vizinhos do Manchester United, que têm como donos a família Glazer, dos Estados Unidos.
Desta forma, o Newcastle entra de rompante neste mundo de investimentos estrangeiros, pela mão do príncipe herdeiro do trono da Arábia Saudita, o que leva o clube, de um só tiro, para os primeiros lugares da lista dos mais ricos do mundo. Apesar de ser um valor que ainda não foi confirmado, a comunicação social britânica revelou que o negócio pela compra do Newcastle poderá ter chegado aos 300 milhões de libras (cerca de 350 milhões de euros).
DIREITOS HUMANOS VS FUTEBOL A Arábia Saudita, no entanto, é um país que levanta polémica por todo o mundo no que toca a assuntos como os direitos humanos e a democracia. Entre os vários casos polémicos está o homicídio do jornalista saudita Jamal Khashoggi, que, alega-se, terá sido assassinado por forças da coroa do país, o que deixou uma grande mancha na sua reputação. Como tal, o negócio milionário com o Newcastle United fez levantar algumas sobrancelhas por todo o continente, havendo quem questione se será ‘legítimo’ que as equipas de futebol aceitem investimentos de fundos alegadamente associados a atividades de quebra de direitos humanos.
A própria ALQST, uma associação que promove e apoia a temática dos direitos humanos na Arábia Saudita, reagiu à negociação com o Newcastle United, citada pela agência Reuters, argumentando que “para a Arábia Saudita, o negócio mostra o sucesso da sua estratégia de relações públicas de investir em empreendimentos desportivos, na tentativa de limpar sua imagem”. “Para a Premier League… eles estão efetivamente a convidar outros líderes abusivos a fazerem o mesmo”, continuou o diretor da ALQST, Nabhan al-Hanashi.
OPOSIÇÃO RIVAL A compra do Newcastle United não caiu bem aos outros 19 clubes da Premier League, que reagiram à negociação com um pedido urgente de reunião.
Os restantes clubes da principal liga inglesa de futebol questionam a razão por trás da rápida mudança de ideias que permitiu aos sauditas comprar o clube ao empresário Mike Ashley, depois de a mesma negociação ter sido barrada há 18 meses, bem como o facto de, alegadamente, não terem sido inquiridos sobre o negócio.
Nas preocupações dos emblemas ingleses está também o impacto que terá na imagem da Premier League o facto de o clube ter sido comprado por um fundo de investimento administrado por Mohammed bin Salman, figura fortemente criticada por grupos internacionais de defesa dos direitos humanos.