Aman Khalili, o intérprete afegão que ajudou a resgatar o então senador Joe Biden, em 2008, quando o helicóptero onde este seguia teve de fazer uma aterragem de emergência nas montanhas do Afeganistão, no meio de uma tempestade de neve, só agora conseguiu ser ele próprio salvo, quase dois meses depois da queda de Cabul nas mãos dos talibãs, avançou o Wall Street Journal. O caso de Khalili, da sua mulher e cinco filhos teve um final feliz, conseguindo ser retirados do país após cruzarem a fronteira com o Paquistão. Mas se até o homem que resgatou o próprio Presidente dos EUA teve tanta dificuldade em fugir, que esperança poderão ter os restantes milhares de afegãos que trabalharam para a NATO, quanto mais os cerca de 500 mil refugiados aterrorizados pelos talibã, deslocados desde agosto?
No que toca ao intérprete afegão de Biden, pôde contar com o apoio do Departamento de Estado, da organização não-governamental Human First Coalition, mas sobretudo com um grupo de veteranos americanos, que não se esqueceram do seu companheiro.
“O Aman ajudou a manter-me seguro, e a outros americanos, enquanto estávamos a combater no Afeganistão. E quisemos devolver o favor”, explicou Brian Genthe, um veterano do Arizona, distinguido com a condecoração Coração Púrpura, entregue a militares feridos em combate, em declarações ao jornal nova-iorquino.
Foi ao lado destes homens que Khalili foi mandado ao resgate de Biden, quando os dois helicópteros onde seguia a comitiva – que incluía também os então senadores John Kerry e Chuck Hagel – não conseguiram prosseguir viagem, ficando presos numa região remota, onde um ataque dos talibã parecia uma questão de tempo.
Anos depois, foi Khalili e a sua família que ficaram presos, impossibilitado de entrar nos voos de evacuação a partir de Mazar-i-Sharif, principal cidade do norte do Afeganistão, por falta de passaportes – é um mal que aflige boa parte dos refugiados afegãos.
“Por favor, não se esqueça de mim e da minha família. Por favor arranje uma maneira de me tirar daqui”, apelou na altura Khalili, desesperado, dirigindo-se a Biden, em declarações à ABC. Só conseguiu escapar depois de mais de uma centena de horas de viagem, contaria ao Wall Street Journal, conduzindo dia e noite, num país com estradas terríveis, tentando contornar os checkpoints dos talibãs. “Neste momento, isto é uma espécie de paraíso”, assegurou, após chegar a porto seguro. “O inferno era no Afeganistão”.
Ainda não é sabido a que tipo de visto terão acesso Khalili e sua família, tendo-lhes sido negado o visto especial oferecido a quem trabalhou com militares americanos em 2016.
Muitos outros afegãos que conseguiram escapar para os EUA perguntam-se o mesmo. E mesmo os que conseguiram visto podem ter dificuldade em conseguir adaptar-se a uma nova realidade. Recentemente a Câmara dos Representantes aprovou um pacote de 6,3 mil milhões de dólares (5,47 mil milhões de euros) para receber refugiados afegãos, mas não há grande expectativa que passe no Senado.