A autópsia de Gabby Petito "provavelmente" revelou ferimentos "gritantes" e ainda existe a possibilidade de que ela tenha sido negligenciada e passado fome antes de perder a vida, tendo em conta que teria um relacionamento "abusivo" com Brian Laundrie. Esta é a perspetiva que Joseph Scott Morgan, antigo perito forense nas cidades norte-americanas de Atlanta e New Orleans, deu a conhecer ao jornal inglês The Sun.
O especialista disse que foi “fascinante” o facto de o médico legista do condado de Teton ter anunciado a forma como a morte ocorreu apenas dois dias depois da descoberta do corpo de Gabby, de 22 anos. Morgan, que também é analista forense na CNN, comentando os casos criminais dos EUA na televisão, explicou que isto acontece quando a causa de morte foi o estrangulamento, tiros de uma arma de fogo ou uma situação que carecia de intervenção médica imediata.
“Na verdade, isso opõe-se ao trabalho que fazemos na minha área”, declarou o apresentador do podcast Body Bags, sobre a forma como a morte terá ocorrido foi veiculada tão cedo. “É interessante que tenham dado a conhecer que teria sido um homicídio. Com base na minha experiência e na minha carreira, posso dizer que viram algo gritante, algo impressionante", adiantou, acrescentando que considera que, para um médico legista envolvido num caso tão mediático, é totalmente compreensível a demora na divulgação dos resultados finais da autópsia. “Acho que é melhor, certamente do ponto de vista científico, desligar de tudo. E eu não quero dizer isso apenas no sentido físico. Não leia nada, não dê ouvidos ao seu cônjuge, não dê ouvidos aos seus amigos, não responda às perguntas deles".
“Pode haver outras considerações probatórias e as águas estão muito turvas por causa do tempo que decorreu desde a morte”, afirmou Morgan sobre o tempo necessário para concluir a autópsia na totalidade. “O médico quer consultar todos aqueles que puder e tem acesso a colegas, dentro da comunidade forense, que o podem ajudar a perceber se algum detalhe passou despercebido e se é preciso investigar mais algo", explicou. “Porque o cenário de pesadelo final é o que aconteceria se ele entregasse o corpo e a família mandasse cremar os restos mortais".
Morgan disse que se Gabby sofreu outros ferimentos antes da sua morte, o médico legista trabalhará para localizá-los nos resultados finais e determinar se houve hematomas anteriores ou se surgiram marcas devido à decomposição. “O nosso corpo tem uma forma fantástica de cura, mas podemos ter lesões sobrepostas num ponto diferente no processo de cicatrização”, evidenciou. “Existem evidências, pelo menos nos vídeos de Moabe, de que eles discutiram. Por isso, se fosse eu, investigaria ainda mais a fundo", esclareceu, reconhecendo que pode ser difícil distinguir entre lesões pré-existentes e aquilo que pode ter surgido no corpo depois do suposto homicídio. "Será que o músculo está em tal estado de decomposição que não seríamos capazes de perceber isso?", questionou.
De qualquer modo, Morgan especula que existem outras formas de abuso que Gabby poderia ter sofrido, além de ferimentos físicos. “Pode não existir apenas a violência física, pode haver privação e negligência”, afirmou. “Vamos pensar sobre isto: eles estavam a viajar. Existe tal simetria neste relacionamento que ela foi privada de comida?", perguntou, explicitando que, se houver um julgamento, um eventual corpo decomposto pode impedir qualquer tentativa de condenar um suspeito, neste caso, Brian Laundrie, de 23 anos, considerado a única "pessoa de interesse" na investigação. Pode "tornar tudo mais difícil". “Se este caso alguma vez for a julgamento, a decomposição será uma marca contra a acusação e uma marca a favor da defesa".
Os resultados da autópsia de Gabby Petito serão divulgados, esta terça-feira, numa conferência de imprensa às 14h30 (horário do leste dos EUA, 21h30 em Portugal Continental). A busca por Brian Laundrie continua depois de um mandado de prisão ter sido emitido a 24 de setembro por uso indevido de um cartão de crédito de Gabby. Um advogado da família Petito confirmou que o cartão era da vítima e que foi usado após o seu desaparecimento.