Enfermeiros dizem ter o povo do seu lado e avançam com greve em novembro

Enfermeiros exigem ao Ministério da Saúde aumentos salariais, progressão das carreiras, mais contratações e o fim da precariedade.

Combater a precariedade e lutar pela “admissão de mais enfermeiros” no SNS. Estes são os dois objetivos primordiais que os enfermeiros pretendem atingir com a greve agendada para a primeira semana de novembro, que será precedida por uma concentração em frente à Assembleia da República, no dia 28 deste mês.

Antes disso, cerca de 170 enfermeiros manifestaram-se esta terça-feira de manhã em frente ao Ministério da Saúde para exigir melhores condições laborais, numa concentração convocada pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, uma das sete estruturas sindicais da classe que se unem agora e pela primeira vez para protestos conjuntos. A ação de ontem integra a campanha intitulada “Agora Somos Nós” – onde os enfermeiros contaram com o apoio de algumas figuras públicas e apelaram à subscrição de panfletos de apoio, nomeadamente nos centros de vacinação. Um dos slogans mais repetidos foi “Enfermeiros têm razão e o apoio da população!”.

Guadalupe Simões, dirigente nacional do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, explicou ao i que o objetivo da manifestação é “exigir ao Governo a resolução dos problemas dos enfermeiros” – que passam desde logo pela “precariedade”, pela necessidade de “admissão de mais enfermeiros”, mas também por resolver outros constrangimentos já antigos, como “a não contabilização de pontes para os enfermeiros com contrato individual de trabalho e os cerca de 20 mil enfermeiros que nunca progrediram na carreira apesar de já terem 25 anos de serviço completo”, enumerou, não esquecendo “claramente” o aumento salarial “através da negociação do diploma único de carreira tal e qual como está previsto na lei de bases da saúde”. A aposentação é outra das questões em cima da mesa: a profissão de enfermeiro é “reconhecida como de risco e penosidade” e os profissionais “continuam a se aposentar pelo regime geral da administração pública.

“Temos esperança. Acreditamos que conseguiremos atingir objetivos com esta excelente participação da população”, afirmou Guadalupe Simões.

Também estiveram presentes os deputados Moisés Ferreira (Bloco de Esquerda) e João Dias (Partido Comunista Português”.

O Movimento Democrático de Mulheres (MDM), uma associação fundada em 1968 que visa lutar contra as desigualdades e a opressão da mulher, também esteve presente na luta dos enfermeiros. A sua representante, Fátima Amaral, também disse ao i que acredita “sempre na ação interveniente” da população. “Muitas pessoas estão aqui hoje presentes, com sacrifícios profissionais e pessoais, para dizer ao Ministério da Saúde que tem de valorizar mais os seus profissionais”. Os trabalhadores, defende, “têm ser ser ouvidos e não é com uma atualização de 0,9% no salário mínimo – que nem sequer recupera os atrasos dos salários –– que os trabalhadores deixam de estar descontentes. Os salários estiveram congelados durante anos. Não é justo que queiram impor um aumento salarial com base na inflação esperada para 2022. É uma falta de respeito”, apontou.

Para Nuno Agostinho, enfermeiro do Hospital de São João, o Governo nada diz e nada faz. Apenas demonstra “silêncio” para com os problemas da profissão. Veio do Porto para participar na manifestação porque o Ministério da Saúde “assumiu alguns compromissos para com os enfermeiros e não foram concretizados”. Isso leva ao descontentamento das pessoas, que estão “do lado dos enfermeiros” e que reconheceram o seu trabalho durante a pandemia de covid-19. “Já que o Governo não ouve os enfermeiros, que ouça a população”, pediu.

Agora com todos os sindicatos unidos, os enfermeiros voltam a fazer-se ouvir na rua daqui a duas semanas e, ao que o i apurou, o pré-aviso de greve vai incidir nos dias 3 e 4 de novembro.