Londres e Tirana, 12 de outubro de 2021. Inglaterra, Hungria, Albânia e Polónia lutam por mais três pontos na fase de qualificação para o Mundial do Qatar 2022, no Grupo I. Nas bancadas, milhares de adeptos celebram a recém-reposta ‘normalidade’ nos estádios de futebol, um pouco por toda a Europa, e talvez um pouco mais efusivamente do que seria expectável.
Verificaram-se incidentes com os adeptos em ambos os jogos, e a FIFA emitiu, na quarta-feira, um comunicado, em resposta à polémica, garantindo avançar com uma investigação aos incidentes do Grupo I. “A FIFA condena veemente os incidentes no Inglaterra-Hungria e Albânia-Polónia, e gostaria de reiterar que a sua posição mantém-se fime na rejeição de qualquer forma de violência ou de discriminação”, disse um porta-voz da organização, citado pela agência Reuters.
OUTRA VEZ A HUNGRIA A partida em Wembley estava ainda nos seus instantes iniciais, e já as forças policiais britânicas se viam obrigadas a intervir, de cassetetes em mãos, nas zonas onde se encontravam os adeptos visitantes, que partiram para a violência e causaram o caos no mítico estádio inglês.
Alegadamente, segundo os relatórios da Polícia Metropolitana de Londres, as forças da autoridade foram recebidas com violência quando procediam à detenção de um adepto acusado de ‘abusar racialmente’ de um steward do estádio. “Pouco depois do início da partida desta noite [terça-feira] em Wembley, oficiais entraram nas bancadas para prender um espetador por uma ofensa à ordem pública com agravante racial, após comentários feitos a um funcionário. Quando os polícias fizeram a detenção, uma pequena desordem estourou envolvendo outros espetadores. A ordem foi restaurada rapidamente e não houve mais incidentes nesta fase”, revelou a força policial através de um tweet. Uma ação que parecia prever-se, não só graças aos recentes incidentes ligados à própria massa fanática húngara, mas também a partir do momento em que os mesmos surgiram nas bancadas elevando cartazes em contra do gesto ‘antirracista’ de ajoelhar-se antes das partidas, que tem sido usado mundialmente para protestar contra o racismo, e que tem levantado grande polémica.
Aliás, neste mesmo jogo, quando os ingleses se encontravam de joelho na relva, os húngaros começaram a assobiar e criticar o gesto, o que já previa desastre em Wembley. E a tensão seguiu ao longo de toda a partida, tendo os adeptos húngaros tentado novamente causar o caos no estádio após o primeiro (e único) golo inglês da noite. John Stones atingiu a igualdade no marcador, instantes antes do intervalo, e um grupo de adeptos visitantes tentou invadir a secção ‘da casa’, sem no entanto, conseguir ultrapassar as barreiras colocadas para proteger os fãs ingleses.
TERCEIRO STRIKE O incidente foi, de certa forma, o seguimento dos acontecimentos que se tinham já registado na visita da seleção inglesa a Budapeste, onde choveram copos de plástico sobre Raheem Sterling e Luke Shaw, bem como um artefacto pirotécnico após o golo de Harry Maguire, e onde se ouviu um coro de cânticos a imitar macacos dirigido a Sterling, bem como a Jude Bellingham.
Já no rescaldo daquele jogo, a FIFA tinha castigado o emblema nacional húngaro com uma multa de 185 mil euros, bem como com um jogo, em casa, à porta fechada, que obrigou os húngaros a jogar num estádio vazio, no sábado, frente à Albânia. O órgão mundial que gere o futebol tinha a Hungria sob um estilo de período probatório antes do início da partida em Wembley, ameaçando castigar a seleção da Europa central com outro jogo à porta fechada, caso se verificasse mais um episódio de violência e desacatos.
Mesmo fora do âmbito dos jogos de qualificação para o Mundial de 2022, os húngaros foram já alvo de um castigo de três jogos à porta fechada, pela UEFA, e de uma multa de 100 mil euros, depois de, mais uma vez, terem protagonizado insultos de teor “discriminatório”, durante o Campeonato Europeu de 2020.
Os acontecimentos em Wembley, no entanto, mereceram poucas críticas por parte da equipa técnica da Hungria. Marco Rossi, técnico do emblema húngaro, respondeu à situação, garantindo não querer comentar o assunto. “Não me cabe a mim. Tudo o que poderia dizer, poderá ser interpretado de forma diferente”, concluiu. Já do lado dos britânicos da Football Association, a resposta manteve também um tom frio, mas assertivo: “Estamos a par de um incidente na secção dos adeptos visitantes durante o jogo de qualificação para o Mundial de 2022 da FIFA. Vamos investigar e reportar o incidente à FIFA”, concluiu o organismo regente do futebol inglês, numa altura em que outro assunto surgiu no debate público: quão seguro é ver um jogo de futebol em Wembley? Acontece que este episódio não é inédito, e já durante a final do Euro 2020 a UEFA abriu um inquérito à administração do principal estádio inglês, depois de adeptos sem bilhete terem conseguido entrar no recinto durante a final entre a Inglaterra e a Itália.
ALBÂNIA AGRESSIVA Mas os momentos de tensão no futebol não se cingem aos adeptos húngaros, nem a Wembley. Um pouco por toda a Europa, e principalmente depois do regresso dos adeptos aos estádios com o fim das medidas restritivas impostas pelo combate à pandemia da covid-19, os mesmos parecem estar em polvorosa para criar caos e desafiar as autoridades.
Na Albânia, por exemplo, mais um momento de violência marcou a fase de qualificação para o Mundial 2022, no mesmo grupo onde estão também a Hungria e a Inglaterra. Albânia e Polónia enfrentavam-se, em Tirana, quando Karol Swiderski marcou o primeiro e único golo da partida, que garantiria a vitória para os polacos. Os adeptos da casa pareceram não gostar do assunto, e fizeram chover garrafas de plástico sobre Swiderski, obrigando à suspensão do jogo durante cerca de 20 minutos, de forma a conseguir repor a normalidade no estádio da capital albanesa.
No fim da partida, a confusão levou a que o próprio Swiderski tivesse de interromper a flash interview, já que voltou a ser alvo de vários objetos arremessados pelos adeptos da Albânia. “Depois do golo, havia garrafas cheias pelo ar, então foi um pouco perigoso, mas voltámos e terminámos o jogo”, revelou Robert Lewandowski, capitão polaco, aos jornalistas.