A polícia norueguesa há muito que sabia que Espen Andersen Brathen, de 37 anos, se convertera ao extremismo islâmico. Mas isso não impediu que este conseguisse semear o terror nas ruas de Kongsberg, uma cidade no sul do país, durante a noite de quarta-feira, recorrendo a um arco e flechas, tendo também havido um esfaqueamento. As bandeiras estão a meia-haste por toda a Noruega, em memória das vítimas, pelo menos quatro homens e uma mulher, entre os 50 e os 70 anos, tendo havido três feridos, incluíndo um polícia fora de serviço.
Foi com esse polícia que Markus Kultim, empregado de uma loja de cerveja, se deparou na quarta-feira. “Vi um homem a vir na minha direção, a caminhar com uma flecha espetada nas costas”, relatou Kultim, de 23 anos, que vive mesmo por cima da loja de conveniência Coop Extra, onde Brathen começou o massacre. O agente alertou-o e disse-lhe para voltar para casa, contou Kultim à Reuters. “Tive de caminhar na direção de onde o tipo tinha vindo. Foi pesado”.
No Coop Extra vivera-se o caos. “Ouvi os gritos loucos de uma mulher”, recordou Thomas Nilsen, que mora nos arredores desta loja, ao jornal norueguês Dagbladet. “Nunca ouvi nada assim. Era um grito de morte”.
A primeira chamada para os serviços de emergência foi às 18:13 (17:13 em Portugal continental), à hora do pôr do sol na Noruega. Seis minutos depois chegaram as primeiras unidades da Polícia ao local, onde se depararam com o atirador. Não é claro que estivessem armados – a maior parte dos polícias noruegueses não anda com armas de fogo – e Brathen disparou várias setas contra os agentes, conseguindo escapar.
Pensa-se que quase todos os homicídios tenham ocorrido após este confronto, depois da Polícia perder o rasto a Brathen, avançou o Aftenposten – expondo as autoridades norueguesas a críticas por não terem parado o ataque ali mesmo.
Durante 34 minutos, em diveros pontos de Kongsberg, testemunhas depararam-se com um homem armado com um arco,usando uma aljava cheia de setas ao ombro, vagueando entre as casas de madeira do sossegado bairro de Vestside, no centro desta pequena cidade, com pouco mais de 25 mil habitantes.
Na manhã seguinte, seriam encontrados vestígios como uma seta espetada numa parede, mas nem todas falharam o seu alvo. Algumas das vítimas terão sido abatidas no meio da rua, outras dentro das suas próprias casas, escolhidas aleatoriamente por Brathen, segundo confessou o próprio às autoridades. O pesadelo só terminou quando o atirador foi detido, tendo a Polícia disparado tiros de aviso durante a detenção.
O crime está a ser tratado como um atentado terrorista pela Justiça norueguesa, que está a conduzir exames psiquiátricos ao suspeito, mantendo a convicção de que este agiu sozinho, avançou o canal NRK.
Brathen, filho de mãe dinamarquesa e pai norueguês, chegara a ser alvo de uma ordem judicial que o proibia de se aproximar de dois familiares, após deixar um revólver no sofá, algo lido como uma ameaça.
Desta vez, não se trata daqueles casos em que os vizinhos ficam espantados por descobrir que viviam ao lado de um assassino. “Ele era assustador e ameaçador. Sempre tive medo dele”, afirmou uma das suas vizinhas, Gudoon Hersi, de 22 anos, ao Dagbladet, acrescentando que fora vítima de racismo por parte de Brathen. “Ele disse que sentia cheiro a queimado em mim, chamou-me cobra negra, veio ao pé de mim e rosnou-me”.