A epidemia de covid-19 está de novo com tendência crescente em Portugal e já há gripe a circular no país. No que diz respeito à covid-19, a inversão deu-se na semana passada, quando já foram diagnosticados a nível nacional mais casos do que na semana anterior. Já o primeiro caso de gripe foi confirmado laboratorialmente também na semana passada, numa altura em que têm aumentado os doentes com infeções respiratórias nas urgências, agora a regressar a uma afluência pré-pandemia. No dia 11 de outubro, houve mais de 20 mil idas às urgências no país, o que já não acontecia desde março de 2020 quando o país confinou, perto de 8% relacionadas com infeções respiratórias.
O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) indicou esta sexta-feira que o RT, o indicador que tem sido usado para medir a força da epidemia de covid-19 (acima de 1, é crescente) se situa a nível nacional em 1.0, sendo de novo superior a 1 na região Centro, em Lisboa e Vale do Tejo e no Alentejo. O cálculo feito pelo INSA é uma média a cinco dias e o dado ontem divulgado diz respeito a média entre 6 e 10 de outubro. Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que ao longo da pandemia tem calculado o RT com menor desfasamento temporal, confirma ao Nascer do SOL que o RT se situa já em 1,05, o que confirma a inversão da tendência de diminuição de casos de covid-19.
O aumento de infeções verifica-se em particular na faixa etária dos 20 aos 49 anos, adianta, registando-se também na população mais velha, onde tem vindo a ser demonstrado um desvanecimento mais rápido da proteção conferida pelas vacinas, considerando que é nestes grupos etários, e nomeadamente nos lares, que há maior risco. Em relação aos jovens, o investigador considera a subida expectável, em virtude de maior contacto e também porque a cobertura vacinal nesta faixa etária, embora elevada, é inferior à da população mais velha – acima dos 50 anos, a cobertura vacinal aproxima-se dos 100%, enquanto que abaixo dos 25 não chegou ainda aos 90%.
Os dados divulgados pela DGS por faixa etária, que o Nascer do SOL analisou, apontam no mesmo sentido: na última semana, os diagnósticos de covid-19 aumentaram a nível nacional 4,7%, tendo havido aumentos na casa dos 10% na população entre os 20 e os 50 anos, que concentra praticamente metade dos casos, o padrão que se se tem vivido durante a pandemia. Nos idosos, sendo menos casos, houve uma subida mais expressiva: na última semana de setembro tinham sido detetados 263 casos em maiores de 80, subindo para 414 na semana passada (+57%) . Uma evolução que poderá levar a um aumento da mortalidade associada à covid-19, diz o investigador. A administração da terceira dose da vacina já arrancou nos lares e maiores de 80 anos e decorre em paralelo com a vacinação da gripe. A chegada do tempo mais frio e chuvoso, depois de um setembro e arranque de outubro quentes, tenderá a tornar mais propícia a transmissão deste e outros vírus.
É no último balanço de vigilância de vírus respiratórios do INSA, também até 10 de outubro e que o Nascer do SOL consultou, que surge a indicação de que foi confirmado laboratorialmente um primeiro caso de gripe, do tipo B, o que sinaliza uma «atividade gripal esporádica» e início da época gripal. No ano passado, o programa de vigilância gripal despistou mais de 60 mil casos de infeção respiratória. Na comunidade não foram detetados casos, sendo sido apanhados alguns casos nos hospitais – uma circulação residual como aconteceu na generalidade dos países com as medidas da covid-19 em vigor. Além disso, têm sido detetadas mais infeções pelo vírus sincicial respiratório. Na maioria das vezes significa uma constipação ligeira, mas pode trazer maiores complicações em pessoas mais vulneráveis como crianças, estando associado às bronquiolites dos bebés.
No que diz respeito à covid-19, Carlos Antunes salienta que na região Centro parece verificar-se o início de uma nova vaga, havendo a expectativa que a transmissão tenha menos força do que no outono passado, quando por esta altura o RT a nível nacional era superior a 1,1 e se registavam cerca 2000 casos diários de covid-19, mais do dobro do que agora.