Foi o primeiro afro-americano a ser conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, no tempo de Ronald Reagan, e foi ainda chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, antes de se tornar chefe da diplomacia norte-americana sob a presidência republicana de George W. Bush.
Colin Powell morreu na segunda-feira aos 84 anos, devido a complicações ligadas à covid-19, anunciou a família numa nota publicada na rede social Facebook.
“Perdemos um marido, um pai, um avô notável e carinhoso e um grande americano”, lê-se na publicação. Segundo a família, Powell tinha a vacinação completa contra o novo coronavírus.
Nascido em 1937, no Harlem, em Nova Iorque, Colin Luther Powell distinguiu-se na carreira militar. Entrou para o exército em 1958 e serviu na Guerra do Vietname, tendo dedicado 35 anos da sua vida ao exército norte-americano.
Desde 1987, quando se tornou o primeiro conselheiro de segurança nacional negro, no final da presidência Reagan, esteve envolvido em algumas das mais notórias operações militares norte-americanas das últimas décadas, incluindo a invasão do Panamá (1989), a Guerra do Golfo (1991) e a intervenção humanitária na Somália.
O general veio depois a liderar a diplomacia norte-americana, tendo sido uma peça chave na luta contra o terrorismo, após os ataques de 11 de setembro de 2001, enquanto secretário de Estado da administração Bush até 2005.
Chegou também a ser apontado como o potencial primeiro Presidente negro dos Estados Unidos, mas a sua reputação foi “manchada” pelo seu papel na invasão do Iraque em 2003.
Numa audiência nas Nações Unidas, em fevereiro de 2003, Powell afirmou que o Iraque tinha armas de destruição massiva, convencendo assim o Conselho de Segurança da ONU a abrir portas à invasão norte-americana no Iraque, que culminou na queda de Saddam Hussein. Contudo, viria a verificar-se que as informações que usou eram falsas.
A queda de Saddam Hussein pelas mãos das tropas norte-americanas acabou com o governo de um ditador, mas o vácuo de poder e a ilegalidade que se seguiram à invasão desencadearam anos de combates violentos que resultaram na morte de milhares de civis iraquianos inocentes. E nenhuma arma iraquiana de destruição maciça foi alguma vez encontrada.
Powell demitiu-se e abandonou o cargo em 2005. Em 2010, declarou-se arrependido pelas declarações e chamou ao incidente “uma mancha” na sua carreira.
Em reação à morte do seu ex-secretário de Estado, Bush disse, na segunda-feira, estar “profundamente triste” com a notícia.
“Era um grande servidor público” e “amplamente respeitado cá dentro e no exterior”, lembrou Bush. “E o mais importante, Colin era um homem de família e amigo. Envio à sua mulher Alma e seus filhos as minhas sinceras condolências, agora que recordam a vida de um grande homem”.
Apesar dos cargos que ocupou durante as administrações do partido Republicano, Powell apoiou publicamente as candidaturas de Barack Obama e, mais recentemente, de Joe Biden (ambos democratas). Assumiu-se crítico de Donald Trump nos últimos anos, descrevendo o ex-Presidente como “uma desgraça nacional” e defendendo que este deveria ter sido destituído do cargo por impeachment. Após a invasão do Capitólio no início deste ano, afirmou numa entrevista à CNN que já não se considerava republicano.
O antigo Presidente dos EUA Barack Obama descreveu Powell como “um soldado e um patriota exemplar”.
“Todos os que trabalharam com o general Powell apreciaram a sua clareza de pensamento, insistência em ver todos os lados e a capacidade de execução”, elogiou, lembrando ter ficado impressionado com a disposição de Powell de cruzar a divisão política para apoiar a sua candidatura à Casa Branca em 2008.
O secretário de Defesa Lloyd Austin, o primeiro negro a chegar ao cargo de chefe do Pentágono, referiu também que a notícia da morte de Powell lhe deixou “um buraco no coração”.
“O mundo perdeu um dos maiores líderes que já testemunhamos”, afirmou Austin. “Alma perdeu um ótimo marido e a família perdeu um pai incrível e eu perdi um grande amigo pessoal e mentor”.
Já Condoleezza Rice, sucessora de Powell e a primeira secretária de Estado negra, recordou-o como “um colega de confiança e um amigo querido em tempos muito difíceis”.