O quarto suspeito da morte de um jovem de 19 anos, na quarta-feira, na estação de metro das Laranjeiras, em Lisboa, foi ontem detido ao início da noite. Antes disso, em conferência de imprensa, a Polícia Judiciária (PJ) avançou que o esfaqueamento mortal terá tido origem num conflito que nasceu nas redes sociais.
“São conflitos entre indivíduos que residem em zonas diferentes, que são gerados nas redes sociais, através de conteúdos provocadores”, explicou o coordenador da secção de homicídios da Polícia Judiciária (PJ) de Lisboa, Pedro Maia, indo ao encontro da informação transmitida pela TVI e pela CMTV (ambos os canais adiantaram que os homicidas residem no bairro do Casal da Mira, na Amadora, e a vítima mortal na Cova da Moura, no mesmo concelho).
“Houve um confronto entre jovens oriundos de diferentes zonas da Área Metropolitana de Lisboa. O local [estação de metro] não teve nada a ver com o planeamento para cometer aquele crime, foi uma circunstância fortuita que resultou num episódio de extrema violência”, esclareceu o representante daquela Polícia.
Este acontecimento não surpreende a imigrante cabo-verdiana Maria, que não pretende revelar o apelido por temer represálias. “Quando vim para Portugal, vivi durante um ano na Buraca, mas não aguentei aquele ambiente e, por isso, mudei-me para um local mais calmo, na linha de Sintra”, diz ao i.
“Sinceramente, não conheço o rapaz que foi assassinado e acho que também nunca vi as vítimas. Mas não me surpreende, porque vivi à entrada da Cova da Moura e, da janela ou do terraço, via tudo aquilo que se passava. E não era bom”, garante. Não foram raras as vezes em que assistiu à venda e compra de estupefacientes à luz do dia ou a discussões que terminavam com muita violência física à mistura. Segundo a mulher, que se encontra na casa dos 30 anos, “não havia um único polícia que entrasse lá sozinho”. “Quando havia problemas, apareciam sempre vários e com armas mesmo antes de estarem perto de quem quer que fosse. Podem ser atingidos com uma bala perdida, têm de estar preparados. Acho que até eles têm medo de entrar no bairro”.
“Usam uma espécie de código para se identificarem” “Tinha medo de viver ali. Quando me queixo, há pessoas que me acusam de não ser como a gente da minha terra ou até querer ser superior, mas não é nada disso. Simplesmente não me sentia segura naquele sítio e não aguentei mais. Mas já falei com mais pessoas e não é só nesta zona que isto acontece”, conta.
Quando confrontada com a pertença da vítima mortal a um grupo intitulado “200 da Kova”, que foi noticiada online pela página “Invictus Portucale”, Maria não se mostra espantada.
“Como disse, não os conheço, e não vou falar daquilo que não sei, mas a verdade é que a existência de grupos, principalmente, de jovens, na Buraca, é muito comum. Basta pesquisarmos nas redes sociais para entendermos que, muitas das vezes, incluem o nome do grupo nos perfis e até usam uma espécie de código em letras ou números para se identificarem com mais facilidade”. Acrescenta que, quando passava por eles, a caminho de casa, sabia que estavam juntos devido a pormenores como a roupa usada e o corte de cabelo.
Pedro Maia revelou que as “investigações continuam”, sendo o objetivo primordial perceber o eventual envolvimento de mais pessoas no homicídio, realçando que os contornos do crime já “estão definidos”.
Até agora, sabe-se que tanto os suspeitos como a vítima mortal têm antecedentes criminais, mas o coordenador frisou que os envolvidos no esfaqueamento mortal são rapazes “com inserção familiar e com um contexto familiar razoável”.
Os suspeitos serão presentes hoje a primeiro interrogatório judicial no Tribunal de Instrução de Lisboa para aplicação de medidas de coação e a PJ deixou claro que a investigação prossegue para se alcançar o apuramento integral de responsabilidades criminais.