As mudanças, tantas vezes vaticinadas no regresso à vida pós-pandemia, esfumaram-se mais depressa do que o tempo que leva a arder um fósforo. De um dia para o outro, a única transformação entre o Antes da Covid e o Depois da Covid estará relacionada com o arrependimento geral de não se ter guardado uns dias de férias para outubro, no mesmo momento em que a vacinação nos aproximou, mas em que as praias estão quase desertas. Bem, se às vezes remar para o mesmo lado depende só de uma eventual explicação prévia ou de uma mais alinhada coordenação motora, nem sempre os fatores podem ser controlados ou manipulados para o caminho mais desejado. Assim, os semáforos das praias perderam – e não será arriscado dizer – na totalidade o seu protagonismo e sentido de ordem colorido, para devolverem novamente aos mesmos sinais luminosos, estes colocados nas estradas, o seu importante papel no que respeita a serem um dos grandes responsáveis pelo aumento da irritabilidade diária.
Escusado será dizer que tentámos. Se tentámos! Não entraríamos assim em desespero de ânimo leve. Não cedemos ao primeiro impulso ou contratempo, ainda aumentámos o volume da rádio num segundo momento, ativámos o modo ponto-morto num terceiro e percebemos que a visão periférica serve neste momento para ter perceção da estrada enquanto olhamos para o ponteiro a indicar o nível da gasolina, que teima em querer acompanhar a mesma rapidez do ponteiro que conta os segundos no relógio.
Esse não pára, mas por aqui paramos novamente, cinco metros à frente. Talvez 10.
O relógio diz que passaram 45 minutos. No outro ponteiro corresponderiam a três horas. Pelo sol já seria tempo de deixar a pele a escamar depois de novo escaldão irresponsável.
Desistimos de contar as rondas até passar finalmente o semáforo, em último daquela leva, mas num amarelo sólido.
Voltámos a ver a mesma cor segundos depois, agora no painel do carro. De repente só faltava disparar o amarelo no multibanco da bomba de gasolina, que os preços prometem arrombar com todas e quaisquer carteiras.