Enquanto o caos continua nas ruas de Cartum, com manifestantes baleados, levando ao encerramento de lojas e estradas, os militares sudaneses finalmente deram uma pista quanto ao paradeiro do primeiro-ministro Abdalla Hamdok, que está desaparecido desde o golpe de Estado, levado a cabo na segunda-feira.
"O primeiro-ministro estava na sua casa, mas nós temíamos que ele fosse magoado e ele está agora comigo na minha casa", justificou o general Abdel Fattah al-Burhan, que liderou o golpe de Estado, citado pela BBC. O general dissolveu o pouco que se construira de poder civil no Sudão, após a queda do ditador Omar al-Bashir, acusando a instabilidade dos partidos políticos de poder arrastar o país para uma "guerra civil". Paradoxalmente, o seu golpe deixou o país aparentemente mais instável que nunca, com centenas de milhares de manifestantes a sair à rua, enquanto militares vão batendo porta a porta prendendo os organizadores da resistência.
Alguns médicos até se recusaram a entregar os feridos que iam chegando – alguns baleados, outros atropelados por carros lançados contra a multidão, outros espancados de tal maneira que talvez fiquem paralisados – aos militares. "Quando me estava a preparar para entrar na sala de operações havia soldados – tantos soldados – do exército e dos movimentos armados do Darfur aos tiros à volta do hospital", contou Salman, um médico sudanês, no Guardian. "Eles pediram-nos para entregar os manifestantes feridos. Claro que nós recusámos".