Europa em alerta para época de gripe severa para idosos

Instituto Ricardo Jorge confirma ao i que há sinais de uma época de gripe mais precoce. “Devíamos estar a acelerar a vacinação”, defende pneumologista Filipe Froes, recomendando o uso permanente de máscara em espaços fechados a quem é mais vulnerável.

A circulação de um subtipo do vírus da gripe que costuma ser mais agressivo para os idosos, o vírus A (H3N2), levou ontem o Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças a emitir um alerta sobre a potencial gravidade da época gripal este ano. O anúncio soma-se a um aumento das infeções respiratórias que se tem estado a verificar nos diferentes países depois do alívio das restrições da covid-19. Ao i, o departamento de Epidemiologia e Doenças Infecciosas do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), que todos os anos faz a vigilância de doenças respiratórias e gripe, a que desde março de 2020 se juntou a presença do SARS-CoV-2, confirma que há sinais de que a época de gripe, ainda com circulação esporádica em Portugal, está a começar mais cedo, com mais infeções respiratórias do que era habitual nesta altura do ano.

Para já, o INSA confirmou apenas laboratorialmente dois casos de gripe do tipo B não tendo detetado nenhum caso do subtipo A (H3N2) e mantém a vigilância, admitindo que o facto de se estar a testar mais doentes do que acontecia antes da pandemia pode contribuir para uma maior deteção do que havia no passado. “Em Portugal, detetámos desde o verão um aumento das infeções respiratórias, em especial associadas ao vírus sincicial respiratório, maioritariamente, em crianças menores de 5 anos. Atualmente estamos a observar, além do vírus sincicial respiratório, uma circulação esporádica do vírus da gripe, o que é um alerta para a possibilidade de uma epidemia de gripe mais precoce do que em anos anteriores”, refere a equipa do INSA em resposta escrita ao i.

De momento o instituto diz não ter informação que permita perceber se existe alguma manifestação mais severa da gripe este ano ou uma menor imunidade da população, uma hipótese que tem vindo a ser colocada pelos especialistas depois de uma época gripal em que praticamente não foram diagnosticados casos de gripe e houve assim potencialmente menos contacto com as diferentes variantes do vírus da gripe que circulam anualmente com mais intensidade no outono/inverno. O instituto confirma apenas que, comparando com anos anteriores, se observa um maior número de infeções respiratórias.

Nos dados relativos às idas às urgências a nível nacional, que o i analisou, isso é notório. As idas às urgências voltaram nas últimas semanas a níveis pré-pandemia, depois de meses de quebra na procura com os doentes a evitar recorrer às urgências também por receio de contágio, e o peso de infeções respiratórias tem-se aproximado dos 8%, o que já não acontecia desde janeiro deste ano, mas na altura com muito menos idas à urgências e onde a pressão era mais sentida nas unidades de cuidados intensivos cheias com doentes com covid-19, mais do que alguma vez estiveram em épocas gripais. Atualmente os hospitais estão a registar cerca de 17 mil episódios de idas à urgência por dia, quase mil relacionados com infeções respiratórias, mais do que aconteceu em qualquer período da pandemia.

Acelerar vacinas e máscaras em espaços fechados Ao i, o pneumologista Filipe Froes, consultor da Direção Geral da Saúde para a gripe e coordenador do gabinete de crise da covid-19 da Ordem dos Médicos, sublinha que o subtipo do vírus da gripe A (H3N2) já circulou noutros invernos, tendo características que o tornam mais agressivo para os idosos e, ao mesmo tempo, uma menor resposta em termos vacinais.

O médico explica que, além deste alerta europeu, o facto de no ano passado ter havido menos dados sobre a gripe pode levar a que este ano as vacinas, que anualmente são preparadas com base na época gripal anterior, estejam mais desfasadas dos tipos de vírus em circulação. Por outro lado, sublinha que dados publicados pela agência de saúde pública do Reino Unido (Public Health England) sugerem que uma coinfeção com o vírus da gripe e com o SARS-Cov-2 duplica o risco de mortes, um risco acrescido este inverno. Recomenda por isso que a vacinação, quer o reforço da vacina da covid-19 quer a vacina da gripe, seja acelerada. “Se não houver vacinas suficientes para fazer o reforço da covid-19 e a vacina da gripe em simultâneo, é preferível avançar com pelo menos uma das vacinas do que esperar que existam as duas”, recomenda o médico, defendendo também que a população mais vulnerável deve ser aconselhada a utilizar máscaras em espaços fechados em permanência. “São medidas que, com base na experiência dos últimos meses, sabemos que funcionam na redução da circulação dos vírus respiratórios”, sublinha Filipe Froes.

A recomendação foi ontem também feita pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo de doenças, reforçando a necessidade de manter medidas com distância física e higiene em especial em lares e unidades de saúde. O ECDC alertou que anualmente 20% da população tem contacto com a gripe e um em cada quatro desenvolvem sintomas.

Covid-19 com o dobro das mortes da pior época de gripe A pior época gripal em Portugal em termos de letalidade foi vivida em 1998/1999, ano em que o INSA estimou 8.514 mortes em excesso atribuíveis à gripe. O instituto refere ao i que no último ano, praticamente sem casos de gripe, o impacto da covid-19 na mortalidade foi superior ao de qualquer época gripal, estimando-se 22 055 mortes entre março de 2020 e março desde ano, mais óbitos do que os que foram oficiamente ligados à covid-19 e uma análise que tem por base o histórico de mortalidade no país. “Neste inverno, tendo em conta as atuais medidas de restrição da circulação e do contacto entre pessoas, é esperado que haja uma maior atividade gripal do que no inverno passado, durante a qual não tivemos epidemia de gripe. O mesmo poderá acontecer com outros vírus respiratórios, além do SARS-CoV-2, razão pela qual as pessoas de maior risco ou que contactem com pessoas de maior risco de ter complicações de gripe devem manter as medidas de proteção individual recomendadas para a prevenção de infeções respiratória”, recomenda o instituto.