A afluência elevada às urgências na região de Lisboa e com um padrão de doentes diferente do que era habitual antes da pandemia está a preocupar os hospitais, numa altura em que vários serviços apresentam tempos de espera excessivos. Ontem no Hospital de Santa Maria, para onde nos últimos dois dias foram desviados doentes do Hospital Beatriz Ângelo em Loures – que na sexta-feira chegou às oito horas de espera para doentes graves e que deixou de receber doentes encaminhados pelo Centros de Orientação de Doentes Urgentes do INEM na segunda-feira – estava com mais de duas horas de espera para doentes urgentes, que devem ser vistos no máximo em 60 minutos. Ao i, o Centro Hospitalar de Lisboa Norte confirmou que tem estado a receber doentes de outras áreas da residência e com um perfil “mais complexo”. Ontem de manhã, 80% dos doentes em atendimento na urgência deste hospital tinham sido triados com pulseira laranja ou amarela, o que motiva diagnósticos mais diferenciados e uma assistência mais prolongada, explicou fonte oficial da instituição. É um padrão diferente daquele que costumava congestionar as urgências, com maior peso de doentes sem gravidade ou as chamadas “falsas urgências”, pessoas que poderiam ter sido observadas fora do contexto de urgência. Esta situação na sexta-feira já tinha sido apontada ao Nascer do SOL como explicação para a sobrecarga na urgência do Hospital Beatriz Ângelo, que ficou sem espaço para receber mais doentes. Apesar de haver um aumento das infeções respiratórias (representaram nos últimos a nível nacional mais de 8% das idas às urgências), os médicos estão a notar uma maior descompensação nos doentes, que dão entrada nos hospitais com doença crónica não controlada, de quadros de diabetes descompensada a problemas cardíacos e oncológicos não diagnosticados, precisando muitas vezes de internamento, o que com os circuitos covid-19 em vigor é hoje um processo mais complexo, visto ser necessário antes do internamento um teste PCR, o que leva a uma maior ocupação das áreas de atendimento de doentes respiratórios.
Ontem ao final do dia aguardava-se a reabertura do Beatriz Ângelo a doentes urgentes transportados pelo INEM e bombeiros, mas os hospitais receiam um aumento da pressão ao longo das próximas semanas, em particular na região do país onde existem mais doentes sem médico de família atribuído nos centros de saúde.