Numa altura em que o uso da canábis para fins medicinais ou recreativos está em cima da mesa em vários países do mundo, noutros o uso desta droga seja para que fim for – com regras, claro – já nem se questiona. Os resultados estão à vista, as provas estão dadas e são cada vez mais as caras conhecidas do público que decidem aliar este negócio ao seu. Seth Rogen, Jay-Z, Snoop Dogg, Wiz Khalifa ou até Beyoncé são apenas uma pequena amostra das figuras famosas que entraram na indústria da canábis desde 2012, altura em que Washington e Colorado se tornaram os primeiros estados a legalizar o uso recreativo. Nem todos entraram diretamente mas o Nascer do SOL explica-lhe melhor.
«Se fores inteligente o suficiente, entras»,chegou a dizer Snoop Dogg sobre a indústria em expansão e a sua marca, Leafs by Snoop.
Confiante no seu negócio, o rapper decidiu expandir e investir cerca de 13 milhões de euros numa empresa portuguesa produtora de canábis.
Segundo o Jornal de Negócios, a empresa AceCann arrecadou a verba numa ronda de investimento liderada pela Casa Verde Capital, empresa de capital de risco da qual Snoop Dogg é um dos fundadores.
Segundo a empresa, o investimento será utilizado no desenvolvimento de um centro de produção em Vendas Novas, em Évora, cuja construção já teve início no passado mês de setembro.
Pedro Gomes, CEO da AceCann, afirmou que a empresa pretende «desenvolver produtos consistentes e de elevada qualidade que dão acesso aos pacientes a inovação com capacidade para transformar a vida».
Mas em que consiste o negócio de Snoop Dogg? O seu gosto por canábis é conhecido a nível mundial e são vários os projetos aos quais se dedica ou dedicou. Um dos mais conhecidos é a Leafs, a sua marca pessoal, que tem algumas das embalagens mais esteticamente agradáveis do mercado e é especializada em barras de chocolate, mastigáveis, gotas e gomas, além de flores de canábis reais.
Mas o envolvimento do rapper vai ainda mais longo e investiu desde o início na Eaze, uma startup com sede na Califórnia que acabou por se tornar um dos principais serviços de entrega de canábis do estado.
Snoop Dogg também fundou a plataforma digital Merry Jane com Ted Chung em 2015. O site apresenta conteúdo editorial sobre a indústria da canábis, além de servir como um banco de dados para identificar diferentes variedades e utilizações.
Ainda na área da música, também Justin Bieber decidiu lançar-se neste negócio. Recentemente o cantor anunciou uma nova gama de produtos de canábis, intitulado ‘Peaches’. Para o músico não há dúvidas que o seu envolvimento neste negócio está relacionado com a sua saúde mental. «Tentaram fazer-me sentir mal por gostar de erva», disse em entrevista à Vogue. «Mas agora encontrei um novo espaço na minha vida para produtos que foram benéficos para a minha experiência enquanto ser humano», acrescentou.
O projeto nasce assim em parceria com a Palms, uma empresa sediada na Califórnia e especializada neste tipo de produtos. «Sou fã deles e daquilo que estão a fazer ao tornar a canábis acessível», acrescentou.
Neste momento, estão então disponíveis sacos de 0,5 gramas de indica, sativa e citrus terpenes, cada um deles acompanhado por um isqueiro com a palavra ‘peaches’.
E desengane-se quem pensa que o cantor faz isto apenas para seu próprio benefício. É que parte das receitas obtidas com a venda destes produtos vão reverter a favor de organizações de ajuda a veteranos de guerra, e presos por crimes relacionados com a canábis.
Outras celebridades que apostaram no negócio
Apesar de Snoop Dogg e Justin Bieber serem mais falados atualmente devido a este negócio, é vasto o número de celebridades que foi pelo mesmo caminho. Um dos exemplos é a cantora Beyoncé que revelou à Harper’s Bazaar uma produção própria: a voz de Single Ladies está a construir uma quinta para o cultivo de canábis e mel terapêutico.
«Descobri o CBD [canabidiol] na minha última turné e experimentei os seus benefícios para dores e inflamações. Ajudou nas minhas noites e na agitação em que fico por não conseguir dormir».
A decisão da cantora até que surge sem surpresa uma vez que o marido, Jay-Z, lançou no ano passado a sua própria linha de canábis. A marca, Monogram, é distribuída pela Caliva, uma empresa californiana, que conta com um cultivo personalizado e uma plataforma exclusiva de e-commerce. Mas há mais, o rapper é também responsável pela estratégia da nova marca da TPCO, fusão das empresas de canábis Caliva e Left Coast Ventures, com uma projeção de receita na casa dos 334 milhões de dólares este ano, garante a BBC.
O negócio parece ser muito apreciado por rappers e segue mais um exemplo: Wiz Khalifa. A marca herda-lhe o nome e Khalifa Kush tem para venda várias variedade de canábis na Califórnia. E o músico conta até com uma aplicação – Wiz Khalifa Weed Farm – onde ensina a cultivar e a colher a ‘erva’. Há três anos, em 2018, associou-se à Supreme Cannabis para vender óleos derivados da canábis para o Canadá. E para a lista temos mais um… rapper: Drake. O músico lançou em 2019 a More Life Growth Company, em parceria com a mega produtora de canábis Canopy Growth Corp, para comercializar os produtos no seu país.
Durante a pandemia
«Há quase 10 anos, imaginei ter a minha própria empresa de canábis. E hoje posso dizer que a erva da minha empresa Houseplant estará disponível na Califórnia na próxima semana». A publicação – feita no Twitter – remonta a março deste ano e é do ator Seth Rogen. Nascia assim a Houseplant que, criada em conjunto com Evan Goldberg e Michael Mohr conseguiu um grande sucesso logo no dia de lançamento, tendo o site travado com o fluxo de entradas. Além das ofertas para a erva, a Houseplant também vende isqueiros, cinzeiros e produtos de cerâmica.
E ainda no mundo do cinema, há quem veja na canábis o «ingrediente herói do futuro». É o caso de Gwyneth Paltrow que no final do ano passado anunciou o seu apoio à Cann, uma fabricante de bebidas com infusão de canábis em alternativa ao álcool. «Estamos definitivamente a caminhar na direção da legalização da canábis, e acho que isso deve ocorrer», disse a também empresária CEO e fundadora da Goop. E acrescentou: «Na verdade, não sou uma grande usuária pessoal dela. Mas acho que existem qualidades medicinais incríveis e é realmente útil para muitas pessoas», defendeu.
Para ajudar mulheres com dores menstruais, a atriz Whoopi Goldberg, investiu em produtos medicinais à base de canabidiol. A empresa Whoopi & Maya esteve de portas abertas entre 2016 e 2020, tendo fechado por conflitos entre as duas proprietárias. Mas a atriz não se ficou por aqui e voltou ao mercado com Emma & Clyde, de produtos e acessórios para fins medicinais e recreativos.
De forma diferente também Miley Cyrus entra nesta trupe. A cantora é uma das investidoras do Lowell Farms, um café situado em Los Angeles que abriu portas em 2019 e que tem a erva no cardápio.
De forma original nesta lista entra ainda a atriz Marina Ruy Barbosa que em novembro do ano passado lançou a primeira coleção da Ginger – uma marca fundada por si e pela empresária Vanessa Ribeiro. Essa coleção – que contou com 24 peças – foi produzida com cânhamo, planta da mesma família da canábis. Segundo a marca, o uso serviu para dar forma às peças.
Segue-se a beleza. Kourtney Kardashian lançou em 2019 produtos cosméticos com canabidiol. A irmã mais velha das Kardashian garante que o ingrediente potencializa o efeito do ácido hialurónico. «A combinação é mágica», garantiu.
Para terminar a lista – que poderia ser infindável – revelamos ainda casos no desporto. A lenda de boxe Mike Tyson possui uma quinta de aproximadamente 160 mil metros quadrados na Califórnia – a Tyson Ranch – para cultivo de várias espécies de canábis. A planta é usada nos produtos da marca Tyson Holistic Holdings, que vão de comidas a relaxantes musculares.
É que, apesar de este ainda ser um assunto tabu, os números não deixam margem de dúvidas no crescimento do negócio: segundo o centro de pesquisa BDSA divulgado em março deste ano, as vendas globais de canábis alcançaram quase 21,3 mil milhões de dólares no ano passado, um crescimento de 48% face às vendas de 2019. Segundo o estudo, os números podem chegar a 55,9 mil milhões de dólares em 2026.