Ouviram-se muitos alertas sinistros nas vésperas da COP26, em Glasgow, mas até agora poucos compromissos significativos, com o mundo ainda rumo a um aquecimento global de 2.7ºC durante este século, o que seria uma “catástrofe”, alertou um relatório das Nações Unidas, notando que estamos longe do objetivo de nos ficarmos por um aquecimento de apenas 1.5 ºC. Aliás, o próprio secretário-geral da ONU, António Guterres veio a público assumir que as suas esperanças para a COP26 estão “por cumprir”, disse no Twitter. “Mas, pelo menos, não estão enterradas”, ressalvou.
“Não há nenhuma desculpa convincente para a nossa procrastinação”, admitiu o anfitrião da COP26, Boris Johnson, durante cimeira dos G20, em Roma, no domingo, em preparação do encontro climático. Mas a grande novidade deste encontro foi mesmo a aprovação de uma taxa mínima de 15% sobre lucros de multinacionais, para evitar a competição entre países que lhes permite escapar a impostos.
“Já estamos a ver em primeira mão a devastação devido às alterações climáticas, desde ondas de calor, a secas, a incêndios florestais e furacões”, continuou o primeiro-ministro britânico. “Se Glasgow falhar, tudo falha”, salientou Johnson. O ministro das Finanças, Rishi Sunak, ainda esta semana anunciou um orçamento com cortes nos impostos sobre voos domésticos, que já eram muito mais baratas dos que viagens de comboio, muito menos poluentes.
A medida, assumida nas vésperas da COP26, tem sido vista pelos críticos como um golpe na esperança que o Reino Unido possa ter um papel de liderança nesta cimeira do clima. Mas o mesmo poderia ser dito de boa parte dos restantes líderes do G20, que terminaram o seu encontro prometendo “ações significativas e eficazes”, num documento conjunto, sem nunca especificarem o que isso significa concretamente.
Isto era esperado que a perspetiva de alcançar a neutralidade carbónica até 2050 pudesse estar em cima da mesa. Por agora, as promessas da China – o maior emissor de gases com efeito de estufa do planeta, ainda que com níveis per capita muito baixos, menos de metade do que emitem os Estados Unidos ou o Canadá, estando em 42º no ranking mundial – e da Rússia ficaram-se por chegar à neutralidade carbónica até 2060.
No que toca aos Estados Unidos é esperado uma promessa mais ambiciosa – com o problema de que há grandes dúvidas que o Presidente Joe Biden as consiga cumprir, com o seu próprio partido dividido no Congresso. Para o Presidente americano, a escolha é entre prometer e arriscar não cumprir, pondo a credibilidade de Washington em risco, ou prometer pouco, falhando a COP26.
Outra incógnita é o objetivo de obter um financiamento de 100 mil milhões de dólares (uns 86,5 mil milhões de euros) por ano para a transição verde em países em desenvolvimento, que historicamente beneficiaram menos dos combustíveis fósseis.
Para já, houve alguns sinais positivos, como a promessa da Itália de quase triplicar a sua contribuição, subindo-a para 1,4 mil milhões de dólares (mais de 1,2 mil milhões de euros) anuais ao longo dos próximos cinco anos, anunciou o primeiro-ministro Mario Draghi este domingo.