Por José Maria Matias, aluno do mestrado de Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Nova de Lisboa
Na semana passada tivemos a décima Caminhada Pela Vida. A causa da Vida tem sido marginalizada do espaço público e não tem políticos dispostos a dar a cara. A marginalização deve-se a dois fatores: em primeiro à inexpressiva mobilização da sociedade para temas desta índole e também devido à cultura de descarte que se enraizou não só na classe política, mas na comunicação, universidade e setores culturais. Como tal, não se pode esperar dos políticos mais do que o reflexo exato da sociedade que representam. É por isso que a Caminhada Pela Vida é um acontecimento central. É aqui que se encontram pessoas ligadas a movimentos pró-vida, a diferentes credos religiosos, não-crentes ou pessoas de partidos distintos. Unem-se diante da mesma premissa: toda a Vida, independentemente da cor, credo, origem, nacionalidade, orientação, ideologia, ou outro fator, é inviolável desde o momento da conceção até ao da morte natural.
Há relativamente pouco tempo, tínhamos as chamadas questões fraturantes em Portugal. Isto porque dividiam tanto a sociedade que causavam profundas cisões. Contudo, nem 15 anos passaram desde o último referendo do aborto e hoje quem se assuma como pró-vida, arrisca-se a ser intitulado de radical, extremista ou mesmo intolerante.
De toda a Europa chegam sinais perturbadores, como a aprovação do relatório Matic que aconselha ao fim da objeção de consciência médica na realização de abortos, ou como o projeto de lei do Partido Socialista espanhol que queria criminalizar ações de grupos pró-vida. Temos visto ainda a pressão feita pelas instituições europeias no sentido da liberalização do aborto na Polónia. Neste cenário, é evidente que a luta pela Vida passou a ser, também, uma luta pela Liberdade, uma vez que uma conceção errada sobre a vida só poderia ser fruto de uma falsa noção de liberdade.
Nas críticas aos grupos pró-vida ouve-se que estes limitam a sua defesa a dois pontos estáticos no tempo, o princípio e o fim da Vida Humana. No entanto, tal nunca foi verdade e as suas preocupações têm sido mais abrangentes. Desde logo na reversão do inverno demográfico que se tem vindo a acentuar ao longo dos anos, algo que a imigração não dissipa. Aliás, quando falamos de imigração temos de compreender as consequências a níveis sociais e económicos que esta deixa nos países de origem e isto serve para certos setores que andam constantemente com os revisionismos históricos, mas que depois defendem modelos sociais que perpetuam a pobreza e a miséria nestes países.
Por outro lado, a aprovação de leis fraturantes vinha emancipar as pessoas, mas na verdade tiveram o efeito contrário. Resultaram na perpetuação da pobreza, da discriminação e do abandono. Continua a ser inexplicável que o Estado diga a uma família que atravesse uma gravidez e esteja numa situação de desemprego que o seu problema é a gravidez e não o desemprego. É preocupante assistir ao empenho com que se quer aprovar a eutanásia que ainda esta semana voltou a ser agendada em conferência de líderes, mesmo depois do chumbo do orçamento de Estado. Aceitar a cultura de abandono de idosos é inconcebível. É grave assistirmos à humanização do animal e à desumanização da pessoa. Ainda pior quando constatamos que no orçamento de estado para 2022 não tenhamos medidas concretas para a natalidade, incentivos para os pais passarem mais tempos com os filhos ou estímulos económicos para as famílias. Até por isso mereceu o chumbo que teve. Se é verdade que o século xxi traz o desafio de lutar pela Humanidade, a causa pela Vida dá-nos a consciência de que não podemos perder a nossa humanidade. É caminhar.