Por Alexandre Faria, escritor, advogado e presidente do Estoril Praia
Na passada semana, em Las Palmas, realizou-se o IV Encontro Internacional de Poesia da Macaronésia, evento que contou com o apoio da câmara municipal da capital da ilha Gran Canaria, assim como da Universidade de Las Palmas, levando a poesia à principal academia destas ilhas espanholas.
Depois dos sucessos das edições anteriores em Ponta Delgada, nos Açores, e em Porto Santo, na Madeira, coube às Canárias a responsabilidade de acolher estes encontros poéticos idealizados pelo seu fundador, principal inspirador e comissário internacional, João Carlos Abreu, conceituado poeta, escritor, dramaturgo madeirense e secretário regional no governo da Região Autónoma da Madeira entre os anos de 1984 e 2007.
Criador e responsável pelos maiores festivais e iniciativas de renome internacional da Madeira, a visão estratégica e a ambição criativa de João Carlos Abreu tornam-no numa das maiores referências culturais portuguesas, capaz de unir arquipélagos, mares e continentes.
O poeta Aquiles García Brito foi o comissário desta edição onde participaram trinta autores e poetas destas ilhas, assim como de Cascais, Sintra, Lisboa, Madrid e Cuba, que debateram na Universidade de Las Palmas relevantes temas da atualidade, desde a compreensão da condição humana, o discurso poético na prevalência técnico-científica e a natureza da ilha, para além de terem participado em diversas conferências, encontros com os estudantes, lançamentos de novas publicações, recitais no clube desportivo centenário Real Club Victoria e em visitas históricas aos lugares mais significativos da Gran Canária, com dramatizações e análises obrigatórias a figuras incontornáveis como Cristóvão Colombo.
Composta por quatro arquipélagos, Açores, Madeira, Canárias e Cabo Verde, a Macaronésia constitui um importante núcleo cultural que ultrapassa os seus limites geográficos e desencadeou nestes últimos dias duas significativas lições, saídas diretamente destas ilhas a oeste do estreito de Gibraltar, conhecidas em termos etimológicos como ilhas abençoadas.
Para além da cultura constituir uma das melhores respostas na promoção turística e na reafirmação futura das nossas sociedades, conferindo a necessária esperança após esta inesperada pandemia ou, neste caso concreto, depois dos desastres naturais trazidos pela erupção de um vulcão, as autarquias e as regiões necessitam de apostar, de incentivar e de desenvolver a formação das novas gerações, onde o património único e inigualável das culturas e heranças lusófona, latina, mediterrânea, insular e africana se assumem como a nossa melhor ferramenta. Os poetas continuam a ser os melhores promotores das cidades, nos sonhos regenerados pela escrita.