No dia em que um surto de covid-19 no Jardim-Escola João de Deus, em Leiria levou ao encerramento do pré-escolar, pelo menos, até à próxima «segunda ou terça-feira», segundo disse à Lusa a coordenadora da Unidade de Saúde Pública do Agrupamento de Centros de Saúde Pinhal Litoral, o Nascer do SOL recebeu uma denúncia relativamente ao comportamento dos encarregados de educação.
Segundo esta fonte, quando deixam os educandos nestas instituições ou vão buscá-los, alguns daqueles que são responsáveis pela sua educação e pelo seu bem-estar não utilizam equipamento de proteção individual. Poderia pensar-se que estão a infringir uma regra prevista na lei, mas a verdade é que ‘apenas’ não seguem uma recomendação integrada na orientação COVID-19: Creches, Creches familiares e Amas da Direção-Geral da Saúde (DGS).
A educadora de infância Marisa Pedroso vive e trabalha no Porto, sendo que já esteve no setor privado durante quatro anos e frisa que «as lideranças e a gestão são diferentes». Na ótica da profissional, neste «os educadores podem querer agradar aos encarregados de educação e permitir determinadas coisas», no entanto, não acredita que o incumprimento do uso de máscara seja um fenómeno porque «as pessoas estão muito preocupadas».
«Existem sempre duas fações: aqueles que cumprem e aqueles que não cumprem. Penso que a resistência não se vai tornar num fenómeno porque as pessoas, mais do que nunca, estão sensíveis à necessidade de usar máscara», indica, apontando que este antagonismo também se verifica, mas natural e compreensivelmente, entre os mais novos. «Há crianças mais obedientes que incorporam as regras e outras que resistem porque em termos respiratórios não é nada prático», menciona, salientando que, a título de exemplo, num grupo de 25 meninos, «no máximo três ou quatro» usam máscara, até porque tal não é recomendado pela DGS para crianças com idade inferior a cinco anos.
«Numa primeira fase, as pessoas viveram obcecadas por isto, mas agora sabem que a covid veio para ficar e, se não quisermos atingir pontos histriónicos, temos de nos adaptar. Quem é educador de infância sabe que é impossível obrigar uma criança até aos 4 anos a usar uma máscara. A própria genética e biologia das crianças não ia permitir», diz Marisa, alinhando-se com Inês Alexandre, educadora de infância numa IPSS da Amadora.
«Pode haver um ou outro que se esquece de colocar a máscara, mas fazem-no quando são alertados», afirma, adiantando que a maioria das crianças não usa equipamento de proteção individual. «Aparece uma de vez em quando, mas não a usa na creche».
«Tem sido bastante tranquilo. As pessoas externas à instituição cumprem as regras sem questionar», avança, acrescentando que, desde o regresso ao ensino presencial, o mais complicado tem sido o distanciamento físico.
O testemunho de Joana Cabral Esquetim, educadora que exerce funções em Arronches, no distrito de Portalegre, vai ao encontro do de Inês Alexandre. «Na escola onde trabalho todos os pais se apresentam de máscara dentro do estabelecimento. E na escola da minha filha, em Vila Boim, em Elvas, é igual: tudo se apresenta de máscara quando entra».
«Segundo a lei da Segurança Social e da DGS, os pais podem ir até ao hall de entrada buscar os filhos. Na minha escola preferem manter tudo como antes. Na da minha filha, queixaram-se de que não se estava a cumprir as regras. O que, na realidade, é parvo porque há um corredor para troca de sapatos e um pátio exterior», conclui.
Até ao final de sexta-feira, do Jardim-Escola João de Deus, estavam infetados 19 alunos e duas educadoras. Segundo a agência Lusa, na Batalha, no distrito de Leiria, existe também um surto de covid-19 no jardim-de-infância, que afetou 13 crianças. Existem também casos identificados em instituições na Caranguejeira e na Maceira. Recorde-se que, a 22 de setembro, havia 31 surtos em creches, ATL e jardins-de-infância.