Hatice Cengiz, noiva do jornalista e crítico do regime saudita Jamal Khashoggi, apelou ao cantor Justin Bieber para cancelar o seu concerto na Arábia Saudita, agendado para o próximo dia 5 de dezembro, na cerimónia de inauguração do Grande Prémio de Jeddah, da Fórmula 1.
Jamal Kashoggi, de 59 anos, foi assassinado a 2 de outubro de 2018 por agentes sauditas no consulado do seu país em Istambul. Segundo um relatório dos serviços secretos dos Estados Unidos, onde o jornalista estava a residir, o príncipe herdeiro e governante de facto da Arábia Saudita, Mohameed bin Salman, aprovou o seu assassínio.
Agora Cengiz apela a que o cantor não deixe que o “seu nome e talento” sejam utilizados para “restaurar a fama de um regime que mata os seus críticos”. Além de Justin Bieber, irão ainda atuar o rapper A$AP Rocky, os DJ’s David Guetta e Tiesto e o cantor Jason Derulo.
Numa carta aberta publicada pelo The Washington Post, onde Khashoggi trabalhou como colunista, a mulher, de 32 anos, explica que há “pouco mais de três anos”, o noivo “entrou no consulado saudita em Istambul a acreditar que ia buscar alguns documentos que precisava” para o seu casamento. “Em vez disso foi assassinado dentro do consulado por agentes que agiram sob as ordens do príncipe saudita Mohammed bin Salman”, escreve.
Lembrando que “o assassínio brutal” fez “manchetes em todo o mundo” e que várias organizações de direitos humanos “têm pedido justiça”, Cengiz apela: “Cancela o teu concerto de 5 de dezembro na Arábia Saudita. Esta é uma oportunidade única para mandar uma mensagem poderosa para o mundo de que o teu nome e o teu talento não vão ser usados para restaurar a reputação de um regime que mata os seus críticos”.
A mulher revela a existência de várias “provas” que implicam o regime saudita na morte do noivo. “Não há dúvidas acerca das circunstâncias da morte do Jamal”, reitera.
“Eu sei que és dedicado aos teus fãs e vais viajar para a Arábia Saudita por eles. No entanto, há milhares de sauditas, de todas as idades, backgrounds, e ideologias religiosas, a morrer na prisão, a serem castigados por apenas expressarem a sua oposição à impiedosa ditadura de Mohammed bin Salman”, afirma.
Por fim, Cengiz lembra o ator das suas próprias convicções: “Este ano, lançaste um álbum intitulado ‘Justiça’. Também já lançaste um chamado ‘Liberdade’. A Arábia Saudita precisa urgentemente de ambos”.
“Não cantes para os assassinos do meu querido Jamal. Por favor, fala e condena o seu assassino, Mohammed bin Salman [MBS]. A tua voz será ouvida por milhões. Se recusares ser um peão de MBS, a tua mensagem será alta e clara: ‘eu não atuo para ditadores. Eu escolho a justiça e liberdade em vez do dinheiro’”, rematou.