Olhando para o que tem sido escrito sobre a ‘geringonça’ alemã, denominada de ‘semáforo’, e comparando com a ‘geringonça’ portuguesa, percebemos porque um país é pujante e outro é a desgraça que conhecemos. O SPD, que venceu as eleições por menos de dois por cento em relação ao partido de Angela Merkel, aliou-se aos Verdes, terceiro mais votado e ao Partido Democrático Liberal, o quarto preferido dos alemães. O tempo dado para chegarem a a acordo não foi esgotado, e os alemães já têm Governo, onde não houve lugar a loucuras. A título de exemplo, diga-se que os Verdes queriam acabar com a inexistência de limite de velocidade nas autoestradas e receberam um rotundo não dos restantes partidos do ‘semáforo’.
As autoestradas foram feitas para as pessoas se deslocarem mais rapidamente entre dois pontos e não fazia sentido haver um retrocesso. Calculo que não seria fácil aos mais velhos explicarem aos mais novos que ‘antigamente’ demoravam muito menos tempo a fazerem o percurso de autoestrada entre Berlim e Munique, por exemplo.
Por lá, os limites de velocidade existem em zonas mais problemáticas e ai de quem o não os cumpra. Mesmo nas autoestradas sempre que há mau tempo ou existe muito tráfego os limites são impostos. Mas quando nada disso acontece, é sempre a abrir, pois foi para isso que se fizeram estradas seguras. No fundo, esta política rodoviária é um dos símbolos da liberdade que um povo aprendeu a conquistar. Portanto, os Verdes bem apareceram com as conversas à BE e à PCP e foram obrigados a enfiar a viola no saco.
Outras matérias existem em que o partido mais votado não cede aos partidos minoritários, e não querendo entrar em política alemã, da qual pouco percebo, é óbvio que os três partidos da ‘geringonça’ chegaram a consensos aceitáveis para todos. Um deles é que se preparam para legalizar a marijuana, algo que já devia ter acontecido em todos os países civilizados, pois cada um deve ser responsável pelo que faz. Achei estas duas decisões emblemáticas da liberdade em que acreditam os cidadãos da economia mais pujante da Europa. Parece também que os partidos governamentais estão alinhados na defesa de um exército europeu, algo bem mais necessário do que esta pressa dos portugueses em quererem cumprir exemplarmente a transição energética.
Na Alemanha, ao que se diz, as centrais a carvão só vão desaparecer em 2030. Em Portugal acabaram na semana passada, sendo agora preciso importar essa energia quando o vento pára e o sol se esconde. Calculo que os portugueses queiram pedir dinheiro aos alemães para pagarem o custo do encerramento das centrais a carvão… No próximo ano veremos melhor como os países mais pobres irão pagar bem caro essa pressa da transição energética, em que países como Portugal se portam como se fossem dirigidos por Greta Thunberg. Na edição deste fim de semana do jornal i, que está nas bancas, Clemente Pedro Nunes, professor catedrático do Instituto Superior Técnico explicava que se Portugal desaparecesse do mapa, isso só se refletiria na melhoria do ambiente no planeta em 0,1 por cento. E dizia mais. Que a Espanha decidiu reabrir uma central a carvão no dia em que fechámos a do Pego. Ou que a Índia tem 120 vezes as emissões portuguesas, com 300 centrais como a do Pego e que já disse que só as fecha em 2070.
Como se vê, são muitas as razões para não passarmos da cepa torta.
P. S. Hoje à noite veremos se as sondagens se enganaram em toda a linha ou se acertaram, já que todas dão a vitória a Rui Rio na luta do PSD. Mas o mais insólito é que as sondagens referem-se a pessoas que não podem votar no PSD. Qual o sentido destas sondagens? Seria o mesmo que fazer uma sondagem para saber quem era o melhor presidente do Benfica e ouvir os adeptos de todos os clubes. Surreal.
vitor.rainho@sol.pt