Numa notícia, entre muitas noticias, sobre refugiados e imigrantes, apareceu-me o rosto que nos é familiar a todos: Sharbat Gula. Talvez o nome não diga nada, mas todos nos lembramos da capa da National Geographic que, em 1985, publicou a fotografia de uma mulher afegã com um rosto e uns olhos penetrantemente verdes.
Fiquei impressionado! Aquela fotografia tinha trinta e seis anos. Sim, há três décadas e meia esta mulher afegã deixou-se fotografar pelo fotógrafo norte americano Steve McCurry tinha Sharbat Gula treze anos. Era o rosto feminino e sereno de uma adolescente afegã que, como muitas outras mulheres, viviam num campo de refugiados junto do Paquistão.
Esta mulher, hoje com quarenta e nove anos, saiu mais uma vez do seu país e chegou a Roma. Vai ser acolhida, como refugiada, pelos italianos. Trinta e cinco anos depois daquela fotografia, Sharbat Gula continua a procurar a paz.
No momento em li esta mensagem, pensei: até quando?
Até quando esta mulher será forçada a deixar o seu país, a sua família, os seus amigos e o seu circulo social? Até quando será obrigada a ser despojada de tudo a viver à mercê da caridade de outras pessoas, de outros países?
O que está acontecer no mundo é uma desgraça sem precedentes.
Refugiados? Sempre os houve!
Basta abrirmos a bíblia para percebermos que há milénios que ou dominamos ou somos dominados. Basta olhar para a história do povo de Israel para perceber que as guerras e as deportações são um fenómeno de todos os tempos.
Olho para o mundo de hoje e pergunto-me: como chegámos aqui? Como é que três décadas depois da primeira fotografia, esta mulher continua a viver como uma refugiada? Como é possível? O que estamos nós a fazer à humanidade?
A cimeira sobre o ambiente, que aconteceu em Inglaterra, é fundamental para o futuro da humanidade. Mas não estará na hora de se fazer uma cimeira estritamente dedicada aos fluxos migratórios? Não estará na hora de começarmos a ter políticas mundiais que possam estabilizar o curso daqueles que procuram ter uma vida melhor?
Na realidade, eu acredito que ninguém quer sair da sua terra. Ninguém, mesmo! Eu lembro-me da música que dava nos bailaricos de quando eu era pequenino: «Voltei, voltei, voltei de lá. Ainda ontem estava em França e agora já estou cá». Era uma música interessante pelo que dizia a seguir: «Vale mais um mês aqui do que um ano inteiro lá».
Aqueles portugueses que saíram nos anos 60 para os bidon villes de Paris não queriam viver em barracas, nem alguma vez imaginaram viver em casas feitas de alumínio e madeira. Os meus avós que vieram da Sertã, nunca imaginaram alguma vez vir parar a um bairro cheio de barracas e irem morar num bairro clandestino (onde eu nasci e cresci e fiz todo o meu percurso, com muito orgulho – o Catujal).
O que as pessoas procuram é uma vida melhor. E isso é legítimo! Isso é bom…
Foi assim com os irlandeses e os europeus quando partiram para a terra dos sonhos e das oportunidades: os Estados Unidos da América. Foi assim com os italianos e os alemães quando partiram para a Argentina ou os portugueses para o Brasil.
Porque o que nós queremos é estabilidade e segurança. É isso, por exemplo, que procuram muitos brasileiros que vieram na última década para Portugal (e o culpado não é seguramente o Bolsonaro).
Uma coisa é certa… se não nos juntamos para termos políticas concertadas em todos os países, muitos imigrantes continuarão a vender os seus bens em busca da terra prometida e ao chegar à Europa em vez do paraíso prometido, vão encontrar o inferno escondido.
É isto que está a acontecer, hoje, e vai continuar a acontecer.