Como estava a epidemia de VIH antes da covid-19

Infeções têm vindo a baixar mas há muitos diagnósticos tardios.

O último balanço sobre a situação epidemiológica da infeção pelo vírus da sida em Portugal foi feito há um ano, na altura com os dados de 2019 e notificações desse mesmo ano recebidas até junho de 2020, a metodologia seguida habitualmente pelo INSA e DGS para corrigir atrasos de reporte. Segundo a informação então disponibilizada, Portugal mantinha a tendência de “diminuição sustentada” de novos casos de VIH/Sida depois do pico atingido em 1999, tendo pela primeira vez registado em 2019 menos de mil novos casos no espaço de um ano (778).

Apesar da evolução positiva, nas comparações internacionais o país mantinha-se com uma incidência de novos casos de VIH/Sida superior à média dos países da UE, de 7,6 novos casos por 100 mil habitantes, ultrapassada apenas por Chipre, Estónia, Irlanda, Letónia e Malta. Na região europeia, o leste regista a epidemia ainda mais ativa, com uma incidência de 54,9 novos casos por 100 mil habitantes na Rússia, que no relatório ontem divulgado pelo ECDC volta a representar a maioria dos novos casos reportados ao organismo europeu em 2020.

No último ano, de acordo com a informação prestada pelos diferentes países ao ECDC e conhecidas ontem, foram reportados 104 765 novos casos de infeção por VIH, 15% na Europa Ocidental e 81% nos países de Leste, com a Rússia a representar 57% das infeções.

Apesar do decréscimo sustentado de novos casos de VIH nas últimas décadas, Portugal mantinha alguns desafios nesta área: em 2019, quase metade dos diagnósticos continuavam a ser feitos tardiamente, “com particular expressão entre os homens heterossexuais”, notava o balanço do INSA e da DGS, defendendo que tal justifica o investimento da prevenção e promoção do diagnósticos. Os diagnósticos tardios assumem também maior peso (68,1) na população com mais de 50 anos.

Desde os primeiros casos detetados em 1983 contavam-se, no final de 2019, 61 433 diagnósticos de infeção por VIH no país e 15 213 mortes associadas à doença. Estima-se que em Portugal estejam diagnosticados 90% dos casos mas estarão ainda por diagnosticar, segundo os dados apresentados nos últimos anos, mais de 4 mil infeções, que podem só manifestar sintomas anos mais tarde.

Em 2019, Portugal atingiu as metas da ONU de ter 90% das pessoas diagnosticadas com VIH a fazer tratamento antirretroviral e, destas, 90% com carga viral indetetável, tratamentos dados hoje mais precocemente, que adiam a progressão da doença, hoje crónica, e evitam a transmissão. Para 2030, o objetivo eram os 95%. Outra área em que o país tem avançado é na utilização dos medicamentos como profilaxia de pré-exposição (PrEP) em populações de maior risco – a toma de medicação regular que permite reduzir o risco de contrair o vírus. O Hospital Amadora-Sintra foi o último a anunciar a abertura de uma consulta de PrEP no início deste mês. 

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