O setor da Educação vê-se com uma série de problemas relacionados com os professores que não vêm de agora: um deles diz respeito aos muitos horários que ainda estão por preencher e que constituem um indício de que há por todo o país muitas instituições com falta de profissionais. Segundo os dados da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) relativos à lista de escolas com mais pedidos de preenchimento de horários no período de 15 de setembro a 24 de novembro deste ano, a que o i teve acesso, no topo da lista encontra-se o Agrupamento Escolar Aqua Alba, em Agualva, situado no Cacém no concelho de Sintra, com um total de 863 horas de aula por preencher.
Quais sãos os 10 agrupamentos? Depois do agrupamento Aqua Alba, em segundo lugar vem o Agrupamento Escolar (AE) de Silves, com 713 horas; em terceiro lugar o AE Amadora Oeste, com 691 horas; em quarto lugar o AE Mem Martins, com 664 horas; em quinto lugar o AE Miguel Torga, Sintra, com 626 horas; em sexto lugar o AE Eduardo Gageiro, Loures, com 600 horas; em sétimo lugar o AE de Benfica, Lisboa, com 592 horas; em oitavo lugar o AE das Laranjeiras, Lisboa, com 575 horas; em nono lugar o AE de Adelaide Cabette, Odivelas, com 569 horas; e, por último, o AE João de Barros, Seixal, com 553 horas.
Alternativa são centros de explicações “Não havendo professores não há alunos naqueles horários. Temos de pôr os alunos em centros de explicações ou em centros de estudo para compensar as aulas que não estão a ter”, explica ao i Nuno Gomes, presidente executivo da Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos da Escola Secundária Ferreira Dias, que pertence ao AE Aqua Alba. Os pais reuniram com a direção da escola nas últimas duas semanas e falaram diretamente com a diretora, conta o encarregado de educação. “A realidade é que a responsabilidade é do Ministério da Educação. Há professores que aceitam os horários e que depois ao fim de uma semana desistem porque arranjam um horário melhor”, esclareceu.
A direção está agora a desmembrar os horários para os tornar mais atrativos. Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e Educação Visual (EV) estão com falta de professores. Já na escola Ferreira Dias “existem problemas também com a disciplina de Matemática A e de Português”, afirma Nuno Gomes. “A realidade é que o cenário não é tão gigantesco como parece porque está a haver um esforço grande da direção da escola”, disse. O responsável “é o ministro que se não resolver este problema do preenchimento de horários, para o ano a situação será bem pior”, deixou em alerta.
A task-force para os professores Foi apenas no passado dia 17 de outubro que o governo anunciou uma task-force para ajudar as escolas a combater a questão. A equipa será constituída por elementos da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) e da Direção-Geral da Administração Escolar (DGAE). Uma iniciativa que já foi alvo de críticas: a Fenprof classificou-a como “um atestado de incompetência aos diretores das escolas, a quem o senhor ministro, pelos vistos, não reconhece capacidade para resolver o problema e, portanto, tem de ter alguém que lhe diga como se faz», criticou o secretário-geral, Mário Nogueira.
No mesmo dia, foi anunciado que o aumento do número de professores que se deverão aposentar nos próximos anos obrigará à contração de cerca de 34,5 mil profissionais até 2030/2031 para assegurar que não haverá falta de docentes nas escolas.
A deslocação dos docentes é um problema António Martins, diretor do Agrupamento de Escolas de Silves, no Algarve, que ocupa a segunda posição na lista das mais desfalcadas, explicou ao i que a maior dificuldade dos últimos tempos foi com a disciplina de Educação Tecnológica e com a disciplina de Física e Química – que o agrupamento tem vindo a responder “atribuindo horas a outros professores”.
Questionado sobre a eficácia da task-force anunciada, António Martins considera que tudo aquilo que se fizer para tentar resolver os problemas das escolas é positivo, mas confessa que poderia “ter chegado mais cedo”, porque a questão da falta de professores vem de anos anteriores.
No ano passado, conta, houve também “algumas dificuldades” com o preenchimento de horários devido à falta de docentes. “Devia ter sido calculado”, aponta. Mas para percebermos melhor o problema, o diretor do AE de Silves chama a atenção para o problema das deslocações. “Deveria haver uma atenção especial” para os docentes que tem de se deslocar da sua zona de residência para o trabalho, considera. “Um professor que venha do Norte para o Algarve chega à cidade e tem de pagar 600 euros de apartamento e, sinceramente, não sei o que fica para o resto, porque existem ainda as outras contas e, claro, alimentação para pagar”, nota. “É o que sinto muito quando converso com outros professores”.