Em agosto deste ano, o jornal especializado em neurociência, Brain, publicou um artigo intitulado: “Parem com isso! Não é Tourette, mas um novo tipo de doença psicogénica em massa ”.
No artigo, os médicos da Escola de Medicina de Hannover, na Alemanha, especularam que uma doença psicogénica em massa, que se assemelhava a Tourette, estava a espalhar-se entre os adolescentes alemães.
“Uma doença psicogénica é quando as pessoas que estão em contato próximo desenvolvem sintomas semelhantes, mas sem nenhuma causa subjacente”, explicou a investigadora Kirsten Müller-Vahl
Um surto em massa desta doença foi observado no Reino Unido, em 2015, numa escola de Lancashire. Depois de algumas crianças desmaiarem durante uma cerimónia, cerca de 40 alunos receberam tratamento médico para tonturas que se suspeitava serem causadas por ansiedade.
O fenómeno observado pela equipa de Müller-Vahl – jovens com tiques de início súbito possivelmente relacionados com a exposição às redes sociais – foi observado por médicos ao redor de todo o mundo. “Vimos grupos de meninas adolescentes da mesma escola que desenvolvem tiques quase idênticos”, explicou a neurologista pediátrica do britânica Tammy Hedderly.
Da mesma maneira, nos EUA, a neurologista Caroline Olvera, viu um número crescente de jovens, principalmente raparigas, com tiques de início súbito.
Num artigo de investigação com base num estudo de mais de 3.000 vídeos de influenciadores de TikTok, a especialista escreveu: “Apesar de o estudo abranger diferentes países, 67,9% da amostra mencionou que os seus tiques de TikTok eram de outros criadores de conteúdo, e a maioria tinha o mesmo tique vocal”.
Uma controvérsia surgiu do equívoco de que os médicos estão a acusar os jovens de simular a síndrome de Tourette ou de argumentar que o TikTok está a provocar nas pessoas a síndrome de Tourette. Contudo, nenhuma das afirmações é verdadeira.
Os especialistas dizem que os tiques são “sugestionáveis”, o que significa que as pessoas com tiques costumam desencadear novos tiques umas nas outras.
“Sabemos que quando as pessoas com Tourette se reúnem em grupos de apoio podem ‘apanhar’ os tiques uns dos outros, embora geralmente seja por algumas horas”, declarou Anderson. Ou seja, não é que o TikTok esteja a provocar tiques nas pessoas; em vez disso, pode estar a provocar tiques em pessoas que pesquisam nas redes sociais informações sobre a sua condição.
“As redes sociais não podem criar tiques”, esclarece a neurologista, acrescentando que “o que pode fazer é desencadear tiques em alguém que já é suscetível.”
“A segurança e o bem-estar de nossa comunidade são a nossa prioridade”, disse, por sua vez, um porta-voz da TikTok. “Estamos a consultar especialistas do setor para entender melhor esta experiência específica. Estamos orgulhosos de que as pessoas que vivem com a síndrome de Tourette encontraram um lar no TikTok onde podem lutar contra o estigma, encontrar uma comunidade e expressar-se autenticamente.”