Por António Prôa
Rui Rio venceu as eleições no PSD com o voto livre dos militantes, contra as expectativas, em desacordo com uma maioria de estruturas e dirigentes, mas ao encontro da preferência dos portugueses. Agora, Rui Rio volta a ter a possibilidade de se concentrar na sua prioridade e no que os portugueses esperam: o futuro de Portugal. Para isso, deverá contar com todos aqueles que se reveem no seu posicionamento político e no seu projeto.
É verdade que Rui Rio saiu reforçado desta eleição. Mas, ao contrário do que afirmam aqueles que se lhe opuseram, não foi graças à disputa eleitoral, mas pela forma como o líder do Partido assumiu esta disputa em momento em que a responsabilidade convidava a evitar um confronto interno. Se Rui Rio tivesse contribuído para a exposição das diferenças e da divisão que uma contenda partidária sempre significa, então o partido estaria hoje mais frágil aos olhos dos portugueses.
O facto mais notório e até surpreendente foi a dessintonia entre muitas estruturas locais e os militantes respetivos. Se o universo eleitoral fosse de estruturas e dirigentes partidários, Rui Rio teria perdido a eleição. Mas venceu pelo voto livre dos militantes porque estes eram os únicos legítimos decisores. Importa que, com responsabilidade, sejam retiradas consequências deste desfecho.
Se Rui Rio viu agora renovada a sua legitimidade, conforme afirmam aqueles que se lhe opuseram, então certamente que estes verão como natural que essa legitimidade se materialize na autoridade como que fará escolhas, para já de deputados e logo depois nas propostas com que se apresentará aos portugueses.
A ‘clarificação’ era outro propósito da imposição deste ato eleitoral mesmo antes do final do mandato. A maioria dos militantes confirmou o posicionamento político de Rui Rio – ao centro –, mas também validou a estratégia que tem sido seguida e, não menos importante, o estilo moderado mas frontal que o caracteriza.
O PSD caracteriza-se pela diversidade de sensibilidades. Naturalmente que essas sensibilidades não têm de estar todas em sintonia. Mas a democracia obriga a que todos respeitem a vontade expressa pela maioria dos militantes. Não se espera que agora todos passem a ‘ser Rio’. Ou ainda pior, que digam que são quando não são.
A responsabilidade, nomeadamente das estruturas partidárias locais, nesta fase de proposta de militantes para candidatos a deputados, é de não prolongar as divergências que deveriam ter ficado resolvidas com a eleição direta.
A proposta de candidatos a deputados do PSD é competência da Direção Nacional e a decisão é do Conselho Nacional. Em qualquer circunstância, será o líder do Partido quem dará a cara pelas escolhas do Partido. O que é natural é que Rui Rio assuma, nas escolhas que fará, a legitimidade conquistada, olhando, para além dos posicionamentos nas últimas eleições, à competência política mas também técnica e, como é normal e não menos importante, à lealdade e confiança políticas. A sensatez assim o exige e certamente é isso que os portugueses esperam.
No atual contexto, com a liderança nacional renovada e com um Conselho Nacional em fim de mandato, fruto da precipitação de eleições, coloca-se uma questão de comparação da legitimidade entre estas duas entidades. Antevendo-se a habitual tensão nestas decisões, exige-se que impere o bom senso e uma atitude que não prejudique a confiança dos portugueses no PSD. Mais importante do que os interesses individuais ou de grupos, importa tão somente o interesse do país.