H á cerca de um mês, a 30 de outubro, o diretor do Programa Alimentar Mundial,David Beasley, desafiou Elon Musk com um tweet em que dizia que bastava 2% da fortuna do magnate para acabar com a fome no mundo.
Três dias depois o dono da Tesla e da Space X, o homem mais rico do mundo, com uma fortuna avaliada em cerca de 238 mil milhões de euros, respondeu que se a ONU encontrasse uma solução viável e a conseguisse sintetizar num tweet, ele própria venderia ações da Tesla no valor de seis mil milhões de dólares (cerca de 5,1 mil milhões de euros) e doaria o dinheiro para ajudar a solucionar este problema.
Cerca de duas semanas depois, Beasley divulgou um plano onde comprova que é possível terminar com a fome no mundo.
O plano da ONU está dividido em quatro partes: 3,5 mil milhões de dólares seriam gastos com alimentação e a logística para a sua entrega; dois mil milhões em vales de alimentação; 700 milhões na implementação de medidas eficientes e eficazes; e 400 milhões em operações regionais e globais.
Apesar da boa vontade da ONU, alguns especialistas duvidam da eficácia do plano.
Segundo Jessica Else, professora assistente de Desafios Sociais e Ambientais da Universidade do Texas, que publicou um artigo no site The Conversation sobre o assunto, a fome na Terra não é explicada pela falta de alimentos. Existe no planeta, esclareceu, comida suficiente para alimentar todos os seus habitantes.
Por exemplo, espalhadas pelo mundo existem, aproximadamente, mil milhões de vacas criadas para servir de alimento, segundo dados do Statista, e uma vaca em média pode ser convertida em cerca de 200 kg de carne, o suficiente para alimentar 2300 pessoas, explica o site Farm Desire. Mesmo que não seja suficiente para alimentar todas as pessoas do mundo, até porque algumas religiões não permitem o seu consumo, a distribuição mais igualitária destes animais seria suficiente para acertar a disparidade de fome no mundo.
No entanto, isto não é o que acontece, com a professora a apontar a pobreza – cerca de 40% da população mundial não tem dinheiro para conseguir fazer uma refeição saudável – e os conflitos geopolíticos (só o do Iémen deixou mais de 5 milhões de pessoas perto de morrer à fome) como os principais entraves para resolver esta questão.
Esta agência da ONU, criada em 1961 com o objetivo de acabar com a fome mundial, está a ter sérios problemas em resolver esta questão, apesar de em 2020 ter conseguido reunir um valor recorde de cerca de 8,4 mil milhões de dólares (aproximadamente 7,4 mil milhões de euros), através de doações de vários países e celebridades. Mesmo assim, este ano observamos números recorde de pessoas a passar fome, nomeadamente, na América Latina e no Afeganistão.
Ao todo, em 2020, todos os americanos doaram 471 mil milhões de dólares (cerca de 416 mil milhões de euros) a organizações sem fins lucrativos. Else aponta, por isso, que o problema não é apenas financeiro, apontando para «infraestruturas organizadas pelos governos» como o caminho para a «igualdade depende de movimentos de civis em massa», a «mudança de políticas» e a «redução de conflitos depende de diplomacia entre governos».
Então o que podem a PAM e os bilionários fazer para ajudar os carenciados no mundo?
A professora defende que o bilionário e o diretor do Programa Alimentar Mundial deveriam «colocar de lado os seus egos e potencialmente tentar trabalhar juntos», mas isso implicaria um compromisso por parte de Musk.
Em 2012, o bilionário assinou um compromisso público, Giving Pledge, onde iria doar pelo menos metade do seu dinheiro ao longo da sua vida. Apesar de recentemente estas doações terem aumentado relativamente, ainda está para ser observado um donativo realmente significativo.
«Se Musk está à procura de um desafio, acredito que acabar com a fome mundial é muito mais difícil do que ir para o espaço», argumentou Else. «Gostava de o convidar a usar o seu dinheiro, influência e inovação para enfrentar o maior problema do mundo. Acabar com a fome exigiria primeiro resolver conflitos, erradicar a pobreza, construir infraestruturas e desacelerar o ritmo das mudanças climáticas. Isso seria verdadeiramente revolucionário», concluiu.