As velhas perseguições a judeus e mouros na Península Ibérica voltaram a assombrar a aldeia de Castrillo, na província espanhola de Burgos. Nas paredes desta terra, que até há seis anos se chamava Castrillo de Matajudíos, ou “castelo mata-judeus” em português, surgiram graffitis com mensagens antissemitas, pintados a spray negro durante a madrugada, visando edifícios como a câmara municipal e o centro de memória sefardita, que ainda está em construção, invocando a Inquisição e o Holocausto, para choque da população local.
A denuncia partiu do presidente da Câmara de Castrillo, Lorenzo Rodríguez, do Ciudadanos, estando as autoridades policiais da comunidade autonómica de Castela e Leão no terreno a investigar o caso. Este ataque “cobarde, nojento, violento e intolerante”, levado a cabo por “pessoas intolerantes e incultas”, descreveu Rodríguez no Twitter, “foi em vão”, e não impedirá a sua aldeia de abrir o seu Centro da Memória Judia, estabelecido no caminho de Santiago de Compostela, no próximo ano.
Entre as mensagens antissemitas graffitadas viam-se coisas como “o presidente da câmara vendeu-se ao judeu assassino” e “Juden Raus” (ou “judeus fora”, em alemão), um slogan muito comum na Alemanha nazi.
Contudo, também estavam presentes referências aos massacres na Península Ibérica. Como “longa vida aos monarcas católicos”, ou seja, à Rainha Isabel de Castela e ao Rei Fernando II de Aragão, que instalaram a Inquisição em Espanha, no séc. XV, obrigando à conversão forçada, expulsão e perseguição dos judeus e muçulmanos em Espanha, incentivando o Rei Manuel I de Portugal a fazer o mesmo. E ainda se lia que “Torquemada era camarada”, glorificando o grande-inquisidor Tomás de Torquemada, responsável por pelo menos duas mil execuções, muitas delas na fogueira, e por um número incontável de vítimas de tortura.
O antigo nome de Castrillo terá surgido mais de uma centena de anos depois destas tragédias, consideram alguns historiadores, resultando da confusão de um escrivão, entre Matajudíos e Mota de Judíos (ou Colina dos Judeus). Ainda assim, esta aldeia quis retificar a conotação negativa, tendo os seus cerca de cinquenta habitantes votado para mudar o nome num referendo.
O ataque antissemita de que foram vítimas “mostra o perigo das ideologias que levaram a Europa ao desastre”, alertou a Federação das Comunidades Judias de Espanha, em comunicado. E encorajando Castrillo “a continuar a trabalhar para recuperar o passado judio”.