Uma Ana Bolena negra

A Europa actual deixou-se inundar pelas teorias libertárias da ideologia do género, nas quais um dos preceitos básicos é a imposição de quotas na distribuição de lugares em todas as actividades humanas, substituindo-se, dessa forma, a meritocracia pela paridade.

Por Pedro Ochôa          

A HBO Portugal encontra-se a passar uma mini-série inglesa inspirada nas derradeiras semanas de vida de Ana Bolena, a Rainha consorte a quem o seu marido, Henrique VIII, ordenou que lhe separassem a cabeça do resto do corpo por, alegadamente, o ter traído por adultério.

A particularidade desta série, e provavelmente a única razão para que alguém perca um pouco do seu tempo a vê-la, porque se trata, na verdade, de uma produção de baixa qualidade, é a de que a monarca inglesa, caída em desgraça, é interpretada por uma actriz negra, conhecida mais pelo seu activismo político do que propriamente pelos dotes de representação.

Caso a intenção dos produtores tivesse sido a de criar uma série cómica, até teria graça vermos a Corte inglesa da primeira metade do século XVI povoada de nobres negros, atendendo a que a Inglaterra dessa época era ainda uma das sociedades mais atrasadas da Europa, sem contactos com outras civilizações cujos naturais se distinguiam da raça branca através da côr da pele.

Ou seja, no tempo de Ana Bolena não havia negros em Inglaterra.

Mas não, a série pretende-se didáctica, supostamente baseada em factos reais e recorrendo a pormenores fictícios apenas por uma questão de a romancear com maior dramatismo, razão pela qual teria sido de toda a conveniência que não se tivesse afastado exageradamente da realidade que se vivia naqueles tempos.

No entanto, a Europa actual deixou-se inundar pelas teorias libertárias da ideologia do género, nas quais um dos preceitos básicos é a imposição de quotas na distribuição de lugares em todas as actividades humanas, substituindo-se, dessa forma, a meritocracia pela paridade.

O cinema não foge à regra e os papéis de representação têm, igualmente, de obedecer a essa modalidade em que as minorias, independentemente do contexto histórico em que a trama se desenrole, têm de estar representadas.

Começa a ser raro em qualquer película, seja no cinema ou na televisão, em que não haja cenas homossexuais e protagonistas de todas as raças étnicas, mesmo que a história que se pretenda retratar não engloba, no original, essa diversidade imposta pelo politicamente correcto.     

Esta série sobre Ana Bolena não foge à regra e em nome da inclusão distorcem-se factos históricos, como se esse gesto alegadamente altruísta contribuísse, de alguma forma, para reduzir o preconceito racista que os movimentos libertários insistem em apregoar como existente na sociedade ocidental.

Seria interessante que em nome dessa mesma inclusão se importasse idêntico conceito para outros quadrantes. Poderíamos, por exemplo, observar numa série filmada junto da comunidade zulu um número indeterminado de brancos ou num filme alicerçado na vida de Nelson Mandela atribuir-se o papel principal a um actor branco, de preferência loiro e de olhos azuis!

Mas esta ideia não passa de uma utopia. A paridade que nos é imposta somente dispõe de existência real no mundo ocidental.

Há, no entanto, um pormenor bem mais perverso nesta história da rainha inglesa conduzida ao cadafalso: Ana Bolena e o irmão são interpretados por actores negros, mas a restante família, pais e tios incluídos, são brancos.

Pretende-se, assim, transmitir a noção de que não existem raças, de que somos todos rigorosamente iguais, independentemente da côr da pele com que nascemos.

O pensamento único ganha aqui um novo arranjo, o da raça única!

Ser-se branco, preto ou amarelo é precisamente a mesma coisa e rigorosamente nada nos distingue uns dos outros.

Nada mais falso: um europeu é diferente dum africano, este pouco tem a ver com um asiático, o qual, por sua vez, não se confunde com um árabe, nem este é semelhante a um índio.

E é esta disparidade característica das várias raças que povoam o mundo em que vivemos que desenvolve a cultura que respiramos, que nos agarra às nossas tradições e costumes e que enriquece a nossa língua, tornando-nos, a todos, mais humanos e espiritualmente mais completos.

Eu tenho orgulho em ser branco, de igual modo como os meus amigos que nasceram em África, ou lá têm as suas raízes, se orgulham de serem pretos. Isto, obviamente, não faz de nenhum de nós racista!

Muito pelo contrário, crescemos a respeitarmo-nos uns aos outros.

Respeito que esta cruzada ideológica, assente em falsos dogmas de teor racial, ao invés de fomentar, tende antes a criar estúpidas e desnecessárias fracturas!