No fim do Grande Prémio de Abu Dhabi, o último do ano, ao qual Lewis Hamilton (Mercedes) e Max Verstappen (Red Bull) chegaram em empate pontual, o neerlandês não acreditava no que tinha acabado de conquistar: tornara-se, aos 24 anos, com uma épica ultrapassagem na última volta da corrida, campeão mundial pela primeira vez na sua carreira – o primeiro holandês a conquistar este feito.
Foi um dia feliz, e foi um dia triste. Foi o fecho de mais uma intensa edição do Campeonato do Mundo de Fórmula 1, cheia de polémicas e acusações. Houve lágrimas, gritos, vitoriosos de um lado e queixosos do outro. Foi, de longe, uma das corridas mais empolgantes dos últimos anos na Fórmula 1. Emsimultâneo, Kimi Räikkönen despedia-se da modalidade, e Verstappen entrava no restrito grupo de campeões mundiais. Em Yas Marina, tudo se decidiu na última volta da corrida, quando o neerlandês, com pneus recém-trocados, deixou para trás Hamilton, após a retoma da corrida em seguimento ao embate de Nicholas Latifi contra as barreiras.
RELATO Que corrida, que ritmo, e que adrenalina se viveu em Abu Dhabi, da primeira à última volta. Verstappen partiu na primeira posição da grelha, seguido de Hamilton e Lando Norris. O piloto da Mercedes acabou por conseguir roubar o primeiro lugar em poucos metros, e a polémica começou cedo nos Emirados Árabes Unidos. Ainda na primeira volta, Verstappen e Hamilton fizeram contacto, de leve, e cada um teve o seu comentário a fazer. O incidente, no entanto, não mereceu investigação por parte dos stewards, e a luta pelo sonho continuou.
O neerlandês acabou por ser chamado às boxes logo à 13.ª volta, e Hamilton seguiu o exemplo. Eis que, no entanto, um inesperado – e inspirado – Sergio Pérez acabou por roubar a primeira posição, completando, magna cum laude, a sua missão nesta corrida: o mexicano defendeu com unhas e dentes a sua posição frente ao britânico, dando a Verstappen a oportunidade de conquistar terreno e aproximar-se do topo. Hamilton lá conseguiu recuperar o primeiro lugar, mas o neerlandês já estava bem mais perto. “Lenda”, chamou-lhe Verstappen.
Mas o melhor estava ainda por vir. Quando faltavam pouco mais de 20 voltas por percorrer em Abu Dhabi, uma falha mecânica no carro de Antonio Giovinazzi, da Alfa Romeo, obrigou à ativação do Virtual Safety Car. Verstappen fez uma visita aos mecânicos da Red Bull, ‘calçou’ uns novos pneus, e partiu em direção ao primeiro lugar, onde Hamilton rodava com 20 segundos de vantagem. O britânico, por sua vez, manteve-se com os pneus que tinha colocado na primeira ida às boxes.
A 5 voltas do fim, a vatangem de Hamilton estava reduzida a 11 segundos, mas tudo indicava que seria o novo campeão mundial. Nesse momento, no entanto, um incidente – que ficará para sempre nos anais da história da Fórmula 1 – mudou o destino da corrida em Yas Marina: Nicholas Latifi, da Williams, embateu nas barreiras do circuito, e obrigou à entrada do safety car em cena.
O neerlandês foi às boxes, novamente, buscar um novo conjunto de pneus, ao passo que Hamilton – contra a sua vontade – se manteve em pista. A duas voltas do fim, Sergio Pérez abandonou e, consequentemente, a Mercedes conquistou o oitavo título consecutivo de campeã mundial dos construtores, mas havia ainda uma réstia de esperança para Verstappen.
Uma atrás da outra, as voltas na traseira do safety car foram passando, os nervos foram crescendo, e, já muito perto do fim da corrida, chegou a decisão que a Mercedes temia, e que a Red Bull desejava: permitiu-se uma última volta, em Yas Marina, sem safety car. Verstappen, com o seu recém-colocado conjunto de pneus, não demorou a ultrapassar Hamilton, cruzando de seguida a meta e tornando-se, oficialmente, campeão mundial, com mais oito pontos que o britânico, vice-campeão.