A decadência do Parque Mayer tem décadas. Tantas quantas as promessas de renovação. E o Teatro de Revista – marca daquele espaço – sofreu o mesmo declínio. Desta vez pode ser diferente: a mudança de liderança em Lisboa pode trazer novos tempos para o Parque Mayer. Essa foi a promessa cuja concretização pode significar novos ventos para a Revista à Portuguesa.
Para já, a recomendação aprovada unanimemente pela Assembleia Municipal de Lisboa para propor o reconhecimento do Teatro de Revista como Património da Humanidade vai no caminho certo de afirmação desta arte enquanto fator identitário de Lisboa e da urgência de criar as condições para a renovação, diversificação e desenvolvimento do Parque Mayer.
O esquecimento a que foi votado o Parque Mayer tem sido persistente. E a desistência em encontrar uma solução que recupere e renove o antigo centro da vida artística e diversão da capital teve o seu expoente máximo quando se permitiu substituir uma imensa área com atividades culturais e lúdicas no coração da cidade por um parque de estacionamento.
Na verdade, apenas nos primeiros anos deste século houve vontade de recuperar o Parque Mayer.
Certo é que até aos dias de hoje, com exceção da recuperação isolada do teatro Capitólio, tudo continua na mesma: um espaço degradado, falta de uma estratégia de renovação e mesmo o novo Capitólio tem uma programação escassa e não tem uma linha definida. Apenas o velho teatro Maria Vitória mantém, estoicamente, a atividade do Teatro de Revista. No entanto, perdeu-se o ambiente, acabaram as atividades que rodeavam e inspiravam o ambiente de diversão.
Recentemente, a Assembleia Municipal de Lisboa, por iniciativa de Vasco Morgado (presidente da Junta de Freguesia de Santo António – onde se insere o Parque Mayer), assumindo a sua ligação literalmente umbilical ao Teatro de Revista, aprovou a recomendação para candidatar esta expressão artística a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
O Teatro de Revista, olhado por alguns como uma arte menor e datada, foi resistindo e até se reinventando, ainda que fora do seu espaço natural, revelando resistência e pertinência.
A Revista à Portuguesa é parte da identidade de Lisboa. Trata-se de um género performativo com características únicas, juntando a música, a poesia, a declamação, o teatro ou a dança. Esta expressão artística nasceu em Lisboa em meados do século XIX, tendo-se verificado um forte desenvolvimento e afirmação no início do século XX, incontornavelmente ligado à criação do Parque Mayer onde se instalou, marcando gerações de lisboetas e atraindo quem visitava a capital.
A situação de aparente declínio do Teatro de Revista torna ainda mais pertinente a sua salvaguarda, sendo o seu reconhecimento, primeiro enquanto património imaterial nacional, e depois, eventualmente enquanto património reconhecido pela UNESCO, o instrumento adequado para proteger esta arte. Aliás, este processo pode relançar o interesse e o dinamismo do Teatro de Revista, tal como sucedeu com o Fado.
Este pode e deve ser também um compromisso para, finalmente, apostar na renovação e reinvenção do Parque Mayer enquanto polo de dinamização cultural de Lisboa – articulando-se com outros equipamentos na zona da Avenida da Liberdade, assegurando o espaço para o Teatro de Revista e instalando também outras atividades culturais, com uma aposta na formação e na dimensão histórica desta arte.