Comecemos pelos nomes: Carlos Guimarães (Clube Internacional de Futebol); Jorge Vieira (Sporting), Vítor Gonçalves (Benfica), João Francisco Maia (Sporting); António Pinho (Casa Pia), Cândido de Oliveira ‘cap.’ (Casa Pia) e José Maria Gralha (Casa Pia); Augusto Lopes (Casa Pia), Ribeiro dos Reis (Benfica), Artur Augusto (FC Porto) e Alberto Augusto (Benfica).
Foi assim que alinhou a primeira Seleção nacional de Futebol no dia 18 de dezembro de 1921, em Madrid, no Estádio de O’Donnell, propriedade do Atlético de Madrid, logo ali a pouco menos de meio quilómetro de outro campo com o mesmo nome, o Campo de O’Donnell, do Real Madrid, ambos situados na Calle de O’Donnell, que ligava a Calle de Alcalá ao Parque del Retiro, no Barrio de Recoletos.
É fácil imaginar o entusiasmo que tomava conta destes rapazes que, ao embarcarem no comboio para Madrid, se preparavam para fazer história. Ainda não existia a Federação Portuguesa de Futebol e sim a União Portuguesa de Futebol e um comité de Seleção, composto por figuras ilustres dos primórdios do jogo entre nós ficaram responsáveis por escolher os jogadores: Carlos Vilar, Guilherme Augusto Sousa, Joaquim Narciso Freire, José Pereira Junior, Júlio de Araújo, Pedro del Negro, Plácido Duro, Raul Nunes, Reis Gonçalves, Virgílio Paula e Ribeiro dos Reis, que também era jogador.
Formavam praticamente uma segunda equipa e partiam com razões de queixa porque não conseguiram levar alguns jogadores considerados importantes que, pelo facto de serem funcionários públicos, não receberam ordem para faltar ao respetivos empregos. Nesse tempo, a política ainda não lambia as botas ao futebol.
A Espanha
Do lado de lá da fronteira esperava-nos um conjunto com muito mais traquejo. Embora só tivesse feito a sua estreia no ano anterior, fizera-a em grande, no Torneio de Futebol dos Jogos Olímpicos de Antuérpia. Após terem vencido a Dinamarca – considerada então uma das mais fortes equipas da Europa – graças a um golo de Patricio, tinham tombado aos pés dos belgas nos quartos-de-final (1-3), Mas a sua galopada pela Medalha de Prata tornou-se imparável: 2-1 à Suécia; 2-0 à Itália; 3-1 à Holanda.
O seu guarda-redes, Zamora, ganhava a fama que faria dele uma lenda. No ataque, o esquerdino Acedo, Sesúmaga e Pichichi (cujo nome ainda é símbolo do melhor marcador do campeonato espanhol), garantiram nove golos e davam à Fúria a aura de Seleção fortíssima.
Contra Portugal, no tal dia 18 de dezembro, surgiram em campo com Zamora (Barcelona); Manuel Durán ‘Pololo’ (Atlético de Madrid) e Manuel Meana (Sp. Gijón); Mariano Arrate ‘cap.’ (Real Sociedad), Desiderio Fajardo (Atlético de Madrid) e Balbino Clemente (Fortuna de Vigo); Francisco Pagaza (racing Santander), Eduardo Arbide (Real Sociedad), Félix Sesúmaga (Sama Langreo), Luís Olazo (Atlético de Madrid) e Paulino Alcántara (Barcelona).
Ao contrário da Seleção portuguesa que se baseava fortemente na equipa do Casa Pia, a Espanha recrutava jogadores de todos os cantos do país. Foi aliás, por influência do grupo casapiano que o primeiro equipamento de Portugal foi composto de camisola negra, calções brancos e meias negras, ao bom estilo dos gansos. No peito exibiam os cinco escudos azuis, representação dos cinco reis mouros vencidos por D. Afonso Henriques na Batalha de Ourique (25 de julho de 1139).
O jogo
Com naturalidade, e como seria de esperar a Espanha (que nesse tempo a imprensa portuguesa ainda grafava como Hespanha), venceu o encontro. O resultado acabou por ser agradável para os portugueses depois de tanto domínio dos adversários – 1-3.
Começávamos desde logo com a lengalenga das vitórias morais. Aos 20 minutos, Manuel Meana fez o 1-0; três minutos mais tarde, o terrível avançado do Barcelona, Paulino Alcántara aumentou para 2-0. Nada mau, ao intervalo.
Mas, o reinício do encontro coincidiu com uma avalanche atacante dos espanhóis que chegaram ao 3-0 aos 50 minutos outra vez por Alcántara. Com a vitória garantida, Portugal pôde desenvolver alguns lances interessantes e arrancar um penálti. Alberto Augusto teve a honra de, aos 75 minutos, bater Ricardo Zamora. E ficar para sempre como o autor do primeiro golo da Seleção nacional.