Um local sossegado, seguro, confortável e verde: é esta a descrição de quem reside atualmente na Herdade da Aroeira. A 25 quilómetros do centro de Lisboa, inserido num vasto pinhal sobranceiro às areias brancas das praias da Fonte da Telha, na Costa de Caparica, este é o maior complexo residencial e de golfe da região.
Ao contrário do que aparenta, não é um condomínio privado, embora os 360 hectares do empreendimento – onde existem perto de 900 lotes de moradias e mais de 700 apartamentos – se encontre vedado e a entrada se faça por uma portaria com seguranças e cancelas. Moram aqui cerca de 1600 famílias num total superior a 4000 pessoas.
«Neste momento, é um dos lugares de eleição para se viver na Margem Sul», conta João Carreira, vice-presidente da Aprha – Associação de Proprietários e Residentes na Herdade da Aroeira. «Temos muitos estrangeiros a viver aqui e tem havido muita procura porque é um projeto com alguma qualidade, está relativamente perto de Lisboa, temos as praias também próximas e, por via disso, é um espaço muito confortável e agradável».
O projeto para este complexo de luxo nesta propriedade da Charneca da Caparica foi idealizado nos anos 70 pelo Grupo Sousa Machado, fundado por João de Sousa Machado, em 1923, e atualmente mais conhecido como Grupo SOMA.
Na altura, ali funcionava o Clube de Campo da Aroeira, que era apenas frequentado por uma classe social abastada, inclusivamente pelas figuras mais proeminentes do Estado Novo, como Marcello Caetano ou Moreira Baptista.
Até ao 25 de Abril, a propriedade do clube era da família Sousa Machado e foi loteada para venda, mas a sua promoção não correu bem devido ao processo de ocupação pelos trabalhadores, aquando das denúncias sobre as dívidas que o engenheiro Francisco Sousa Machado tinha contraído em Angola. Numa reportagem, ainda disponível na RTP Arquivos, a comissão de trabalhadores da Aroeira alegava que uma parte dessas dívidas era referente à transferência ilegal de capitais e ao contrabando de diamantes.
Com as dificuldades de viabilização do projeto, só nos anos 90 é que a herdade conheceu um novo proprietário. Joaquim Silveira comprou o extenso terreno e foi a partir daí que o projeto começou a ser promovido como um dos mais luxuosos empreendimentos residenciais do país.
Mais tarde, a Silaroeira – Sociedade de Desenvolvimento Turístico, fundada por Joaquim Silveira, transacionou a sua posição de promotora a outra empresa, a Silcoge, do Grupo SIL, ligada à mesma família, cujo administrador é Pedro Silveira. Entretanto, o Grupo SIL afastou-se do projeto e os lotes foram vendidos a particulares.
Agora, a responsabilidade da manutenção dos espaços verdes, das normais tarefas de higiene e limpeza urbana, conservação de arruamentos, infraestruturas, ordenamento da circulação do trânsito e proteção civil dos moradores está a cargo da Câmara Municipal de Almada, com o apoio da Aprha.
«Enquanto associação de proprietários e residentes temos uma boa parceria com a Câmara Municipal de Almada, no sentido de melhorar toda a herdade, nomeadamente no que se refere ao conforto e à segurança dos residentes», explica o vice-presidente da Aprha.
Uma vez que neste complexo residem várias personalidades do mundo futebolístico, nomeadamente alguns jogadores do Benfica, como Adel Taarabt ou Jan Vertonghen, há ainda uma parceria com a PM – Proteção Mundial , a empresa de Paulo Magalhães especializada em sistemas e serviços de segurança privada, que trabalha com um corpo de segurança próprio.
Depois do violento assalto à casa do jogador do Benfica Nicolás Otamendi, no passado domingo à noite, houve aliás um reforço da segurança no empreendimento. «Tem havido um maior cuidado com a manutenção da rede de oito quilómetros que circunda a herdade, além de termos videovigilância que também vamos reforçar», adianta João Carreira.
O paraíso dos ‘greens’
Apesar de ser uma zona residencial, o grande chamariz daqueles 3,6 quilómetros quadrados de terreno são os dois campos de golfe com 18 buracos. O que a Herdade da Aroeira promove com o ‘microclima’ ideal para a prática de golfe durante todo o ano.
Inaugurado em 1973, o campo de campeonato Aroeira Pines Classic, com 6044 metros de comprimento, foi desenhado pelo Arquiteto Frank Pennick e é considerado um dos melhores campos da Europa, constando na lista dos ‘100 melhores campos Europeus’ da revista Golf World.
Este campo chegou a receber o Open de Portugal em 1996 e 1997, além de diversos Ladies Open, os Amateur Champioship Gentleman & Ladies e o European Men Clubs Trophy 2013.
Já o Aroeira Challenge, inaugurado em abril de 2000 pelo antigo Presidente Jorge Sampaio, foi desenhado pelo arquiteto Donald Steel, com 6367 metros de comprimento e 18 longos ‘greens’ — tapetes de relva onde estão os buracos — que contornam cinco grandes lagos, tendo já sido anfitrião durante vários anos do Qualifying School of Ladies European Tour e de várias edições do Portuguese Ladies Opens.
Além dos dois campos de golfe, que eram propriedade do Banco Espírito Santo (BES) e que, entretanto, passaram para o Fundo Arrábida, pertencente ao Novo Banco, a Herdade da Aroeira comporta ainda um hotel, uma piscina, quatro campos de ténis e uma zona comercial, com uma série de serviços de apoio, como um consultório médico, uma parafarmácia, supermercado, papelaria, galeria de arte, entre outros. O Fundo Arrábida tem também aprovado um outro projeto para um aparthotel na zona da piscina.
No tempo em que ainda pertencia à família Sousa Machado, só era possível frequentar a herdade com um cartão. Agora a entrada não é tão exclusiva, ainda que a segurança esteja mais apertada.
Há quem por ali passe para desfrutar de uma refeição mais pacata no restaurante Golf D’água, para dar um mergulho na piscina no verão, ou ainda para dar umas tacadas de golfe. E quem goste de saber onde moram os jogadores da bola, pedindo a visita guiada aos que conhecem bem a Aroeira.