Mais uma vez, Trípoli estacou à espera da guerra. Com o anúncio do adiamento das eleições presidenciais, cruciais para o processo de paz mediado pelas Nações Unidas, grupos armados saíram à rua nos subúrbios da capital líbia, esta terça-feira. Ergueram barricadas com sacos de areia nos arredores da universidade de Trípoli, no bairro de Fornaj, apoiados pelas típicas carrinhas equipadas com metralhadoras pesadas e tanques, avançou a France Press. Enquanto isso, os alunos, professores e funcionários da universidade recebiam ordem de evacuação imediata, sendo as escolas da cidade fechadas, por se temer o pior.
Na verdade, o adiamento das presidenciais – onde seria eleito o primeiro chefe de Estado líbio desde Muammar al-Kadhafi, que governou o país com mão de ferro durante mais de quatro décadas – marcadas para sexta-feira já era praticamente um dado adquirido. Em parte, pela dificuldade em ir às urnas de forma livre e pacífica num país que esteve em guerra desde 2011, dividido entre milícias e senhores de guerra, muitos deles dedicados a traficar pessoas ou armas. E dispostos a disputar qualquer resultado eleitoral que não seja do seu agrado.
“Como é que podes ganhar uma discussão numas eleições democráticas quando ambos os lados estão armados até aos dentes?”, questionava Tarek Mitri, antigo enviado da ONU para a Síria, a semana passada, à Time. “Sem forças militares unificadas, a eleição apresenta uma ameaça à paz”, alertava.
Candidaturas incertas A uns meros três dias da data marcada para as eleições presidenciais, nem sequer fora anunciada uma lista final dos candidatos, tendo quase uma centena de cidadãos apresentado a sua potencial candidatura.
Entre eles, estavam várias figuras bem conhecidas e polémicas – leia-se, acusadas de apoiar o regime de Kadhafi ou de crimes de guerra durante a anarquia que se seguiu – da política líbia, havendo discordância sobre quais os critérios legais para excluir candidatos.
Talvez o caso mais notório seja o do filho do anterior ditador, Saif al-Islam Kadhafi, incluído numa fornada de 25 potenciais candidatos rejeitados pela comissão eleitoral líbia, o mês passado.
Saif al-Islam fora desqualificado devido à sua condenação in absentia em 2015, por crimes de guerra, cometidos quando combatia a revolta que derrubaria o seu pai. Muitos não lhe perdoam. Aliás, quando o filho de Kadhafi tentou recorrer da decisão da comissão eleitoral, foi impedido de o fazer por homens armados, que tomaram o tribunal de Saba, no interior do país, onde cresceu Saif.
Perante o vazio de poder deixado pelo adiamento das eleições, a Líbia é um barril de pólvora à espera de rebentar. Entre os favoritos às presidenciais estava o general Khalifa Haftar, um senhor da guerra sediado em Tobruk, no oeste, que tomou boa parte do país. Bem como Abdul Hamid Dbeibah, primeiro-ministro interino do Governo montado com apoio da ONU, unindo várias fações com o mandato de realizar estas eleições. Sem elas, o seu futuro, e do resto do país, é incerto.