Um azar nunca vem só

As sondagens todas e mais algumas dizem, no essencial, o mesmo. Há muita gente que acompanha o partido  socialista mas não o consideram suficientemente credível.

Não é preciso muito para perceber que alguma coisa aconteceu em Portugal nos últimos tempos.

Aquela sobranceria do Primeiro Ministro, aquela certeza em tudo, aquela bonomia com que enfrentava as contrariedades, perderam-se.

E não, não se fica a dever isto apenas ao COVID e aos seus intrigantes desenvolvimentos.

Toda a gente percebeu que a hora da libertação anunciada foi atropelada pela nova variante, que as declarações enfáticas precisam de comedimento, que a ameaça é constante e mutável, que o combate se faz com  armas que perdem valor e que o êxito depende da previsão e antecipação das medidas.

Ninguém pode pedir mais a um governo senão que seja atento e capaz e verdadeiro e mobilizador.

O problema não estará, portanto, nos novos desafios, nas incertezas, nas tentativas, no medo.

São eles, afinal, comuns a todos.

Claro que fica uma ideia de que a informação existe e que a indecisão também.

E isso é particularmente sensível quando a Directora Geral da Saúde fala.

Percebe-se que a Ministra não se lhe queira substituir. Não conseguindo melhor, deixa-a queimar em lume brando.

Cresce a importância das instituições científicas, dos especialistas, das bóias às quais os cidadãos alvoroçados se podem agarrar.

Vamos deixar de lado este campo.

A questão essencial é política.

O país está intranquilo com o que pode vir a acontecer.

Há maioria de esquerda? Qual? Outra a vez a mesma? 

E dura quanto tempo e concorda com o quê?

É pouco, é poucochinho, o PS dizer que continuará virado para o mesmo lado, com a mesma gente.

Esses compagnons de route ensaiam discursos mais radicais, pedem o impossível.

Há trotskismo no ar, quando a exigência é absurda, quando se sabe que quanto se pretende tem como destino a discordância e a crise.

Se o partido socialista tem amigos destes, não precisa de ter inimigos.

Por isso lança mão da ameaça mais a jeito.

Ungido como Salvador, não do mundo, mas da pátria, afirma a sua indispensabilidade e tenta demonstrar que só a sua  maioria absoluta convém.

Portanto, o que diz é que os outros não o merecem, que a esquerda é aventureira e enganadora, que sozinho dá o máximo que todos querem.

É isto possível e capaz de convencer os eleitores? Parece que não.

As sondagens todas e mais algumas dizem, no essencial, o mesmo. Há muita gente que acompanha o partido  socialista mas não o consideram suficientemente credível.

Daí que a sua força eleitoral enfraqueça.

Foi penoso ver o Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares tentar o impossível com uma cara patibular..

Foi dramático ouvir o Ministro dos comboios pronunciar-se sobre  o plano de recuperação da  TAP na versão aprovada pela União Europeia.

Ele, logo ele que sempre disse defender à outrance a TAP como empresa pública, vem agora admitir que a TAP só pode sobreviver dentro de um grande grupo.

O que significa, naturalmente, o satisfazer do interesse há muito tempo declarado da Lufthansa.
Logo, será pública até ser absorvida.

E não serve de desculpa o Chanceler ser agora do partido socialista. Ele defende o mesmo que outros defenderam.
Bomba atómica. Se o PS perder, o Dr. Costa demite-se.

Foi assim que  tudo começou mas ao contrário. Perdeu e foi Primeiro Ministro.

Novidade! O dr. Rio está agora a dizer o que deve.

Azar.