As eleições legislativas são a 30 de janeiro de 2022 e nem o Partido Social-Democrata nem o Partido Socialista apresentaram, até agora, os seus programas eleitorais completos, limitando-se a expor as suas propostas em linhas gerais.
Quem não gostou deste detalhe foi Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda, que apontou o dedo aos dois principais partidos da política portuguesa pelo “atraso” na apresentação dos programas.
“De partidos que seja previsível que tenham responsabilidades de Governo esperam-se programas. É absolutamente estranho e contrário à democracia estarmos neste período, a tão poucos dias das eleições e nem o PS nem o PSD terem programa eleitoral”, atacou a líder bloquista, à margem de um encontro com a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), onde entregou uma cópia do programa eleitoral do BE, em braile. Uma medida que os bloquistas tinham já tomado em 2019, quando apresentaram também o seu programa eleitoral neste formato, bem como num vídeo em língua gestual portuguesa. Catarina Martins aproveitou a oportunidade para atirar ainda mais uma farpa aos dois partidos, acusando não terem o programa eleitoral “em nenhuma versão”.
“O país está numa situação complicada. Temos tantos problemas para resolver, da saúde, do salário, do emprego, da transição climática, e não há uma palavra dos dois maiores partidos sobre o que pretendem fazer depois do dia das eleições”, continuou a criticar Catarina Martins, que, relativamente ao facto de o PS ter já apresentado as linhas gerais do seu programa eleitoral, desvalorizou, reiterando que linhas gerais “não são um programa”, e que por esta altura o PS já deveria ter apresentado as suas propostas na íntegra.
Recorde-se, no entanto, que está marcada para esta sexta-feira a apresentação oficial das linhas gerais do programa eleitoral do PSD, às 16h no Hotel Sana, em Lisboa. Isto quatro dias depois de os socialistas terem também apresentado as linhas gerais do seu próprio programa eleitoral.
Exclusão Na sua visita à ACAPO, Catarina Martins realçou as dificuldades das pessoas cegas, acusando a sua exclusão, considerando ser “perturbante” que ainda aconteça no século XXI.
“É perturbante que estejamos no século XXI e as pessoas com deficiência se estejam a sentir mais excluídas e não mais incluídas”, defendeu Catarina Martins, continuando: “Fazemo-lo também porque queremos chamar a atenção para a absoluta necessidade de um avanço civilizacional no nosso país que acabe com a exclusão das pessoas com deficiência”, concluiu a líder bloquista, que acusou os restantes partidos políticos do país por preferirem a ‘institucionalização’ destas pessoas, em vez de lhes darem “as ferramentas necessárias para poderem ter a sua vida autónoma, emancipada, como toda a gente tem direito no nosso país e como seguramente um país no século XXI deve responder”.
De quem é a culpa? Catarina Martins aproveitou também a visita à associação para atirar farpas a António Costa, relativamente às suas declarações durante o debate com Jerónimo de Sousa, na noite de terça-feira.
“António Costa tem em todas as eleições um discurso para pedir a maioria, mais agressivo ou menos agressivo, é sempre esse o registo. Desta vez, decidiu o registo de ‘Ou eu ou o caos’. É errado”, disparou a líder bloquista, depois de António Costa ter negado que teria sido ele a causar a crise política que o país vive, e de ter fechado a porta a uma futura ‘geringonça’ após as eleições de 30 de janeiro.
Catarina Martins discordou, e reiterou acreditar que foi mesmo o primeiro-ministro que quis “atirar-se para uma crise política no meio de uma pandemia”, deixando ainda aberta a hipótese de diálogo à esquerda.