Vejo os anúncios dos debates televisivos, dos grandes e dos pequenos, dos que incluem o Ventura e dos outros, dos que são espetáculos e dos demais que não aquentam nem arrefentam, e invade-me um cansaço profundo.
Em determinada altura, Eça dizia a Ramalho que estava lutando com esse monstro impalpável – o spleen.
Sinto-me em situação paralela.
Não consigo entusiasmar-me.
Não consigo descobrir vencedores e vencidos, fulgores de inteligência, criatividade, magia ou, muito simplesmente para não pedir muito, ideias novas.
Sensaboria, é o termo certo. O que descubro aplicável.
A pandemia está a deixar-nos entregues a nós próprios. Como muito bem surpreendeu o Presidente da República, à excelência da nossa autogestão.
Celebraremos, pois, esse nosso irreprimível e inevitável dom do desenrasca.
Mas o panorama político torna-se tão elíptico que nos leva ao mesmo caminho.
Isto é. Percebemos todos a nossa tragédia.
Estamos numa encruzilhada e empatados.
Nem a esquerda se desenvencilha das suas contradições, nem a direita descobre o caminho marítimo para uma Índia qualquer.
A nossa incapacidade de escolher é a nossa prisão perpétua.
Não consigo identificar um entusiasmo puro, um caminho inovador, um convite irrecusável.
Estão, todos os participantes neste concurso, agrilhoados às suas contradições e aos seus dogmas.
E inventam palavras de ordem e conceitos que, quase sem se darem conta, impedem uma visão descomplexada do futuro.
Dizem uns que o salário mínimo vai continuar a subir e festejam.
É socialmente proibido contestar.
Mas, ao lado, alguém que faz contas recorda como o salário médio fica esmagado e como o salário máximo não tem limite.
Portanto, chegamos à conclusão de que esta proposta é uma forma simples de usar a demagogia como a máscara de uma revolução social.
Todos os demais sentirão, sem dificuldade, que ficarão cada vez mais na mesma.
Quanto tempo vai resistir a sua bonomia?
Recordam outros que os próximos tempos vão ser de aumentos de preços, de pobreza crescente, de perda de valor dos salários. Ninguém liga. Todos fazem de conta que não é nada com eles.
Outra palavra de ordem dos nossos dias é o do reforço do serviço nacional de saúde. A realidade é que, com os desafios atuais e no atual modelo, ou ele não resistirá ou não resistirão os portugueses sem consultas, nem exames, nem cirurgias aos seus males gerais.
Discute-se o rendimento mínimo como se de um látego ou um salvífico meio se tratasse. Ninguém percebe como um desempregado se eterniza no desemprego, como os cursos profissionais são uma caricatura, como alguém que entra nesse percurso fica décadas sem nada fazer e sem horizonte para uma oportunidade.
A verdade oficial é que o país cresce, que se destaca, que fica mais rico, que é um exemplo. A outra é o contrário desta.
Significativamente a maioria dos partidos que se confrontam evitam estas questões.
O que está a dar é a corrupção que todos condenam e ninguém demonstra vontade clara de alterar as condições necessárias à prontidão do julgamento.
O que está a dar é o populismo da esquerda e da direita e a anomia do centro.
Não, neste cenário, como desgraçadamente dizia o líder de um partido, sou católico mas não pratico.