A novela jurídica entre Novak Djokovic e as autoridades australianas parece ter chegado ao seu fim. Depois de ter estado detido num centro de detenção em Melbourne, após o cancelamento do seu visto, entre quinta e segunda-feira, o juiz australiano Anthony Kelly deu ordens para a libertação do tenista, como resultado do processo de recurso iniciado pela sua equipa legal.
Djokovic, que não está vacinado contra a covid-19, e que tinha viajado para a Austrália com uma “isenção médica” que, em teoria, lhe permitiria entrar no país para participar no Open da Austrália, acabou por ser barrado pelas autoridade fronteiriças, que cancelaram o seu visto por, alegadamente, não apresentar todos os documentos necessários.
Nos tribunais, a equipa legal do tenista argumentou que a isenção médica em causa lhe tinha sido concedida por duas entidades médicas distintas, após uma recente infeção por coronavírus (Djokovic testou positivo em duas ocasiões, em junho de 2020 e a 16 de dezembro de 2021), e que apresentou todas as evidências médicas necessárias aos oficiais. “Ele fez absolutamente tudo. Comprometeu-se com tudo o que foi exigido dele pela Tennis Australia”, disse Nick Wood, advogado do sérvio.
“Estou satisfeito e grato que o juiz tenha anulado o cancelamento do meu visto. Apesar de tudo o que aconteceu, quero ficar e tentar competir no Open da Austrália, continuo focado nisso. Voei para jogar num dos eventos mais importantes que temos diante de fãs incríveis”, disse Djokovic, em reação, através das redes sociais, após ter pisado o court em Melbourne Park.
Final feliz? Bom, talvez não seja bem assim. O Governo australiano poderá ainda reverter a decisão dos tribunais de libertar Djokovic. Alex Hawke, ministro da Imigração australiano, tem nas suas mãos o poder de voltar a cancelar o visto de Djokovic se achar que a sua presença no país pode representar problemas de saúde pública.
Se é certo que Hawke tinha uma janela de quatro horas para voltar a cancelar o visto, e não o fez nesse espaço temporal, a guerra ainda não está vencida pelo sérvio. É que o ministro tem um estilo de “poder pessoal” para se sobrepor às decisões judiciais… assim, Hawke até pode ordenar a deportação de Djokovic já depois de o sérvio confirmar a presença no Open, e ter mesmo um primeiro adversário agendado. A decisão sobre o caso, no entanto, deverá ser pública o mais rapidamente possível, já que as autoridades australianas procuram fechar este processo o quanto antes, até porque o torneio começa a 17 de janeiro.
Protestos diplomáticos A vários milhares de quilómetros de distância, Srdjan Djokovic, pai do tenista, liderou as hostes nos principais protestos contra o cancelamento do visto de ‘Djoko’, e a subsequente novela. Depois de ter afirmado que o tenista era o “Spartacus do mundo moderno”, Srdjan Djokovic não poupou nas críticas a Scott Morrison, primeiro-ministro australiano, que acusou de ser um ‘ditador’.
Já em reação à libertação de Novak, o seu pai mostrou-se radiante. “O juiz foi fantástico. Simplesmente respeitou e tomou a única decisão possível: deixar que o Novak faça o seu trabalho”, disse Srdjan Djokovic, que continuou: “O último jogo jogou-se nos últimos cinco dias. Deixem-no agora jogar aquilo em que ele é o melhor do mundo. Retiraram-lhe os direitos. Tentaram persuadi-lo para que assinasse a revogação do seu visto. Negou-o porque não havia razão.”
Já Dijana, a mãe de Novak,fez questão de realçar que o filho “não fez nada de mal, não violou nenhuma das suas leis e foi sujeito a tortura e assédio”. E, pelo meio, deixou a promessa que se irá “ouvir ainda mais sobre o que ele teve de passar”.