A previsão da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que, a este ritmo, mais de metade dos europeus sejam infetados com a Omicron ao longo das próximas seis a oito semanas. Seria um tsunami de casos a varrer o continente, um contágio sem precedentes nesta pandemia, bem capaz de colapsar sistemas de saúde. Mesmo havendo bastantes evidências de que esta variante da covid-19 causa doença menos grave, é difícil imaginar como é que uma sociedade pode continuar a funcionar com tanta gente isolada ou de baixa.
Os números divulgados pela OMS na terça-feira fizeram manchetes, confirmando o que sentem cada vez mais portugueses no rescaldo da época festiva. Quase não há quem não conheça alguém infetado ou em isolamento, tendo Portugal quase chegado aos 40 mil casos diários a semana passada.
Estas previsões alinham-se com os preocupantes modelos do Instituto de Avaliação de Métricas em Saúde (IHME) da Universidade de Washington, citados pelo Nascer do SOL, a semana passada. Anteviam-se três mil milhões de infeções – quase dez vezes o número de casos de covid-19 registados até agora em toda a pandemia – este inverno, afetando sobretudo o hemisfério Norte, dada a aparente dinâmica sazonal do vírus.
A questão é que não é certo que estejamos na reta final da pandemia, que brevemente possamos tratar a covid-19 como uma doença endémica, ou seja, como fazemos todos os anos com a gripe. Aqui ao lado, em Espanha, podem já estar a ultimar um plano para monitorizar a covid-19 como se faz com a gripe, sem registar casos, mas “a meio da gestão da crise temos de ser muito cautelosos com as previsões sobre o futuro”, frisou o diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge, na terça-feira. “Uma das coisas que ainda não conhecemos é a relação entre infeções e a covid-19 prolongada, por exemplo”.
Talvez um dia possamos de facto lidar a covid-19 como se lida com a gripe, com uns invernos mais complicados do que outros. “Continuará a haver transmissão especialmente no inverno devido à emergência de variantes. Contudo, com o aumento da imunidade de infeções prévias, acesso a reforços regulares da vacina e a antivirais, a covid-19 pode vir a ter um impacto equivalente ou inferior ao da gripe sazonal”, anteviu Christopher Murray, diretor do IHME, ao Nascer do SOL. No entanto, tudo indica que este inverno ainda não será assim.
Estamos perante “uma janela de oportunidade a fechar-se para agir agora”, alertou o diretor da OMS para a Europa, apelando a que se protejam os mais vulneráveis e que se tente diminuir o contágio para que os serviços essenciais continuem a funcionar. Nesse sentido, vários governos europeus têm apostado em encurtar o período de quarentena, como Portugal, que diminuiu a quarentena de dez para sete dias em casos assintomáticos. Já Kluge mostrou-se algo reticente quanto a essa opção, assumindo que deverá ocorrer “apenas quando essencial para preservar a continuidade de serviços críticos”.
O diretor da OMS para a Europa fez questão de frisar a importância de manter as escolas abertas, que trás “importantes benefícios para o bem-estar mental, social e educativo das crianças”. Salientando que, para isso ser possível este inverno, é preciso controlar melhor o nível de contágios no geral da população, bem como investir em medidas como ventilação adequada, testagem e um protocolo de quarentena para alunos, professores e funcionários adequado.