Por Roberto Knight Cavaleiro
A revelação feita pouco antes do Natal de que, em abril de 2021, o empresário russo-lituano Sr. Ramon Ambramovich adquiriu um passaporte português e se tornou assim o cidadão mais rico, gerou muita polémica.
Na sua biografia publicada na Wikipedia regista as muitas realizações que permitiram uma rápida ascensão da pobreza a riquezas durante uma era de caos na ex-União Soviética, mas também relata o seu suposto envolvimento em todos os tipos de atividades criminosas, desde extorsão até assassinato. Inevitavelmente, é preciso lembrar o ditado favorito dos oligarcas de que “não se podem fazer omeletes sem se quebrar os ovos”
O valor total da sua enorme riqueza (tanto em dólares americanos quanto em secretas moedas criptográficas) nunca foi estabelecido, mas permite que ele aproveite a vida de um multimilionário que mantém uma rede de residências ultraluxuosas. Entre elas viaja num jato particular que rivaliza com as instalações do “Força Aérea Um” dos Estados Unidos e no segundo maior iate do mundo com proteção blindada, submarino e “equipamento de defesa”. A maior parte desse dinheiro foi adquirida como negociante de commodities nas poluentes indústrias de combustíveis fósseis e metalúrgicas, mas também resultou de se aventurar na propriedade de clubes de futebol, seus jogadores e administração.
Por causa de atrasos e recusas nos seus pedidos de extensão de vistos para britânicos, suíços dos EUA e outros paraísos para oligarcas, ele obteve em 2018 um bilhete de identidade israelita de acordo com a Lei de Retorno, que permite que qualquer pessoa que mostre pelo menos um avô judeu fazer Aliyah. Isso, aliás, dá a ele o direito a dez anos de isenção de impostos sobre todas as receitas no exterior, cuja fonte não precisa ser declarada.
Assim, se o Sr. Ambramovich desejava acrescentar um passaporte português aos três já detidos, porque é que não comprou a sua cidadania através do esquema dos “golden visas”? Pode isto estar ligado ao seu registo na Interpol?
Em vez disso, ele procurou ser aceite como um dos 30.000 judeus sefarditas que já obtiveram esse valioso status, alegando descendência do número relativamente pequeno de ancestrais que foram expulsos de Portugal em 1497 por decreto do rei Manuel I e estabeleceram comunidades na Turquia, nos Balcãs, Holanda e Caribe. A sua reivindicação genealógica foi promovida pelas autoridades rabínicas do Porto, com quem tinha anteriormente estabelecido uma relação como benfeitor de grandes donativos a causas judaicas. Como se pensava anteriormente que a sua árvore genealógica tinha raízes nas culturas Ashkenazi e Khazari, foram expressas dúvidas quanto à natureza histórica, tortuosa e duvidosa desse procedimento.
Seja como for, deve ser reexaminada toda a questão da obtenção do cobiçado passaporte português / comunitário por pagamento e não pelo mérito da capacidade profissional e lícita conduta do potencial cidadão.
Imagem 1 – Ramon Ambramovich Boeing 767-300
Imagem 2 – Ramon Ambramovich Iate