Não tenho boas novidades para si», diz a farmacêutica ao mesmo tempo que me entrega a folha do teste à covid-19. Segundos de palpitações, olhares alheios de pena, mas de alívio em simultâneo – a velha máxima «mais vale ter ela do que eu» -, definir a lista de possíveis culpados só para não ter que segurar o fardo sozinha e, de repente, outro nome na folha: Cláudia. «Ah, desculpe lá, este é que é o seu». Segue-se um suspiro a três tempos, que a máscara esconde, o pedido de desculpas aos culpados que não chegaram a saber que o eram e a vontade de dar uma palavra de força à Cláudia, sobretudo depois de saber o que era passar pela sensação terrível de receber aquela notícia. Pego no meu papelinho e decido sair dali, dando a devida distância de segurança para a Cláudia e um olhar que deveria ser de força, mas provavelmente lhe soou à mesma lógica «antes tu do que eu». Ainda levantei o polegar, vulgo sinal fixe, que me pareceu altamente desadequado assim que virei costas. Mas ainda estava semi atordoada depois do ‘falso positivo’.
Até era suposto ir direta para casa, mas fiz questão de dar uma voltinha extra, em jeito de celebração. Esperemos que a Cláudia não tenha pensado no mesmo.
Cada vez que se dá mais uma finta, com sucesso, ao vírus é como um daqueles ‘olés’ que se ouvem a uma só voz nos estádios de futebol. Mas, neste caso, o marcador é sempre ingrato. Por mais que um teste negativo possa equivaler a um golo para nós, a covid vai sempre nos 19, o que me leva a crer que não é por acaso que dizem que não se deve subestimar o adversário. Sobretudo quando há quem acredite que este jogo já vai na segunda parte ou até quem defenda que entrámos oficialmente no tempo de compensação. Mesmo que os apitos escutados até agora só tenham aparentemente indicado intervalo para descanso.
E ninguém tem vontade de regressar dos balneários…